Título: O desmonte da Petrobrás
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2013, Notas e informações, p. A3

Com lucro de R$ 21,18 bilhões em 2012, 36% menor que o do ano ante­rior e o mais baixo em oito anos, a Pe­trobrás paga um preço devastador pela sujeição aos interesses político-partidários do Palácio do Planalto. Investimentos mal planejados, orien­tação ideológica, loteamento de car­gos e controle de preços de combus­tíveis comprometeram a eficiência e a rentabilidade da empresa e a des­viaram de seus objetivos principais. Os danos impostos à companhia são parte da herança desastrosa deixada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessora.

Desde o ano passado a nova presi­dente da estatal, Maria das Graças Foster, vem tentando corrigir seu ru­mo. Mas a interferência nos preços permanece, os reajustes são insufi­cientes e a geração de caixa conti­nua prejudicada. Mais dificuldades surgirão neste ano, avisaram ao mer­cado, nessa terça-feira, dois dos prin­cipais dirigentes da Petrobrás. Pelo menos esse dado positivo acompa­nhou a divulgação das más notícias: a presidente da empresa e o diretor financeiro, Almir Barbassa, falaram sobre a situação e as perspectivas da companhia com uma franqueza incomum durante a maior parte dos últi­mos dez anos.

Os problemas vão muito além de uma piora temporária das condições financeiras. A produção de petróleo e gás no Brasil, no ano passado, equi­valente a 2,35 milhões de barris diá­rios, foi 0,9% menor que a de 2011. Com a parcela produzida no exte­rior a média diária alcançou 2,59 mi­lhões de barris equivalentes, volume 0,8% inferior ao do ano anterior. A meta de 2,02 milhões de barris diá­rios, fixada para 2012, continuará va­lendo para este ano, com possibilida­de de desvio de 2% para mais ou pa­ra menos. Se o desvio ocorrer, adver­tiu a presidente, será provavelmente para baixo. Não há possibilidade físi­ca, deixou claro a presidente, de um aumento de produção.

As previsões para o ano incluem também, segundo Maria das Graças Foster, mais R$ 6 bilhões de baixas correspondentes a poços secos. Além disso, nenhum novo projeto deverá ser iniciado em 2013. A em­presa continuará empenhada em rea­lizar os investimentos já programa­dos, mas o total aplicado, de R$ 97,7 bilhões, deverá ser R$ 5 bilhões maior que o anteriormente previsto. A empresa continua analisando a qualidade econômica dos projetos enquadrados em 2012 como "em ava­liação". Ao assumir o posto, a nova presidente anunciou no ano passa­do a intenção de rever os planos e prioridades. Não se anunciou, na ocasião, o abandono de nenhum pro­jeto, mas ficou clara a disposição de submeter o programa da empresa a uma revisão crítica.

Sem perspectiva de maior produ­ção a curto prazo, a empresa terá de continuar importando grandes volu­mes para atender à demanda cres­cente de combustíveis. Isso será ine­vitável mesmo com o aumento da parcela de álcool misturada com a gasolina. A necessidade de maior im­portação foi uma das causas da redu­ção do lucro no ano passado. O con­trole de preços foi um complicador a mais. A presidente da empresa rea­firmou a intenção de continuar bus­cando o realinhamento de preços. Mas isso dependerá de como o go­verno pretenda enfrentar a inflação. Se insistir na manipulação de pre­ços, os problemas da Petrobrás po­derão agravar-se.

Com dificuldades de geração de re­cursos, a companhia foi forçada a au­mentar seu endividamento. Com problemas de caixa, a diretoria deci­diu pagar dividendos menores aos detentores de ações ordinárias do que aos demais acionistas, explicou Barbassa. Disso resultará uma econo­mia de R$ 3 bilhões para investimen­tos, acrescentou.

A Petrobrás necessitará de novo aumento de capital, segundo alguns analistas. A presidente da empresa negou essa possibilidade neste ano. Seja como for, o passo mais impor­tante deve ser a consolidação de um novo estilo administrativo, moldado segundo objetivos típicos de uma empresa de energia. A Petrobrás se­rá beneficiada, também, se as suas encomendas de equipamentos e ser­viços forem decididas com base em critérios empresariais. Não é sua função assumir os custos de uma po­lítica industrial. Ter sucesso Como uma gigante do petróleo já é um de­safio mais que suficiente.