Título: Derrotado tenta barrar novo líder do PMDB no Supremo
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2013, Nacional, p. A4

Ação de Sandro Mabel contra Eduardo Cunha expõe racha na bancada do partido na Câmara dos Deputados

O racha causado pela disputa da liderança do PMDB na Câmara assumiu ontem ares de conflito jurídico e setores do partido já pedem até uma intervenção de emergência do Planalto. Depois de fazer um discurso pacifica­dor, após ser derrotado por Eduardo Cunha (RJ) na disputa pelo posto, o deputado Sandro Mabel (GO) entrou com manda­do de segurança no Supremo Tri­bunal Federal (STF) pedindo a anulação do processo.

Mabel alega que os suplentes Marcelo Guimarães Filho (BA) e Leomar Quintanilha (TO) fo­ram empossados "indevidamen­te" nas vagas dos deputados João Carlos Bacelar (PR/BA) e Lázaro Botelho (PP/TO), respec­tivamente. A manobra foi pro­movida na última hora para ga­rantir mais votos para Cunha na eleição do domingo.

"A posse de parlamentares, ainda que em situações excepcio­nais, o que não foi o caso, somen­te poderia ser efetivada pelo pre­sidente da Mesa, justamente por ele estar em exercício de suas prerrogativas atinentes ao car­go, na forma do Regimento Inter­no. Porém, foi levada a efeito por outro membro da Mesa Direto­ra", argumenta Mabel no docu­mento. Ele se referia à deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), que empossou os dois parlamenta­res no sábado, véspera da esco­lha do novo líder do partido.

Apesar do descontentamento com a vitória de Cunha, o manda­do de segurança foi impetrado somente na segunda-feira, de­pois que a eleição de Henrique Alves (RN) para a Presidência da Câmara foi confirmada. O pedi­do para aguardar a eleição à presi­dência da Casa partiu do vice- presidente da República, Michel Temer, que conversou no domin­go com Mabel.

Ameaças. "Ele (Eduardo Cunha) fez ameaças, dizendo que prejudicaria a eleição de Henrique. O Michel e o Henri­que então me pediram para aguardar e fiz isso pelo projeto maior do partido, que é ter o Hen­rique na presidência da Casa", justificou Mabel.

Após a contagem de votos - 46 a 32 em favor de Cunha -, no do­mingo, Mabel falou de sua derro­ta: "Quando você é intitulado candidato de governo, fica um pouco mais difícil, tendo uma bancada que tem uma porção de coisas que não são assentidas. O discurso dele, mais forte, se posi­cionando contra o governo, o aju­dou." Na ocasião, ele disse que a bancada não se dividiria.

Não foi, porém, o que se perce­beu ontem quando Mabel e ou­tros 29 deputados não compareceram à primeira reunião com Cunha à frente do partido. "Ele convocou o encontro para apre-sentar suas intenções como lí­der, mas deveria acender o sinal de alerta com a quantidade de fal-tas já nesse primeiro dia. Ele tem de entender que não são gritos que vão fazer com que a bancada se una", advertiu.

A briga é acompanhada de per­to pelo Planalto, que evita intro­missões diretas, mas pode esca­lar Michel Temer, para acalmar os ânimos. O temor é que o racha - o PMDB tem 80 deputados - prejudique votações importan­tes para o governo.