Título: Endividamento pode levar agências de risco a rebaixar nota da estatal
Autor: Torres, Sergio ; Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2013, Economia, p. B1

Previsão de investimento aumenta 16% para este ano, mas relação entre a dívida líquida e a geração de caixa é preocupante

Ao mesmo tempo em que au­mentou em 16% a previsão de in­vestimento para este ano, a Pe­trobrás anunciou a elevação de seu endividamento a "níveis preocupantes", nas palavras da presidente Graça Foster. E com possibilidade de piora neste ano. Serão investidos R$ 97,7 bi­lhões em 2013; em 2012 foram R$ 84,1 bilhões.

O agravamento do endivida­mento da companhia pode levar agências de classificação de ris­co a rebaixarem a nota da compa­nhia, o que acarretaria venda de ações e aumento do custo com empréstimos. "Ainda não temos certeza de como a Petrobrás en­controu confiança em seu balan­ço para aumentar mais seu capex (investimentos), ou se nós estamos perdendo algo nesta equação", relataram, surpresos, os analistas Gustavo Gattass, Luiz Carvalho e Dario Valdizan, do banco BTG Pactual.

Conforme antecipado pela Agência Estado no mês passado, a Petrobrás rompeu no quarto trimestre a barreira de conforto de 2,5 vezes a relação entre a dívi­da líquida e a geração de caixa (Ebitda), acendendo a luz amare­la na empresa. A vermelha acen­de no patamar comparativo de três vezes. No fim de 2012 a com­panhia chegou a 2,77 vezes, ele­vando a já preocupante relação de 2,42 registrada no terceiro tri­mestre do ano.

"Devemos ficar em torno des­te valor (em 2013). Em alguns momentos, até mais", disse Gra­ça. "Temos uma apreensão mui­to grande em relação ao grau de investimento. Sabemos que te­mos urgência para resolver."

Emparedada entre a necessi­dade de investir mais e a dificul­dade de gerar caixa por causa da produção estagnada e da insufi­ciência no reajuste de combustí­veis, a Petrobrás está diante de "um grande risco": a necessida­de de um aumento de capital, se­gundo os analistas do BTG Pac­tual. O Bank of America também destacou a piora da relação entre dívida e geração de caixa em rela­tório de ontem.

Segundo Graça, a melhora na equação deve vir da produção de petróleo, da venda bilionária de ativos no exterior a partir de abril, do reajuste de combustí­veis e dos programas internos de redução de custos e aumento da eficiência.

Urgência. Para a presidente da Petrobrás, o potencial da empre­sa no futuro, com equipe prepa­rada e grandes reservas que co­meçam a elevar a produção no ano que vem, deve ser levada em consideração pelas agências de risco. "Acreditamos que va­mos passar por 2013 sem maio­res problemas sobre o nosso grau de investimento. É urgen­te que a Petrobrás mostre resul­tados para que continue con­quistando a confiança das agên­cias", disse Graça.

A Moody"s, uma das três gran­des agências internacionais - ao lado da Standard & Poor"s (S&P) e da Fitch -já colocou a nota da estatal em "perspectiva negati­va", embora o grau de investi­mento conquistado em 2007 es­teja mantido.

"O perfil estagnado da produ­ção da Petrobrás em poucos anos daqui para a frente coloca­rão um desafio nesse período de grandes gastos de capital", escre­veram os analistas chefiados por Thomas S. Coleman, em 10 de janeiro.

Já circulava no mercado rumo­res de que a saída para a compa­nhia seria fazer uma nova capita­lização, o que seria ruim para acionistas, por diluir a participa­ção deles na empresa. Mas a pre­sidente garantiu que isso não está nos planos. "Não vai ter capita­lização".