Título: Valor da Petrobrás cai ao menor nível desde a megacapitalização
Autor: Torres, Sergio ; Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2013, Economia, p. B1

Ações caíram 8,3% ontem por causa do resultado fraco registrado em 2012 e da restrição à distribuição de dividendos para fazer caixa

A presidente da Petrobrás, Graça Foster, mandou ontem um aviso a quem imaginava que a Petrobrás começaria neste semestre um processo de recuperação financeira e produtiva em relação a 2012, quando o lucro foi o mais bai­xo dos últimos oito anos e a produção caiu 2,35% em rela­ção a 2011. "2013 vai ser muito mais difícil ainda", alertou.

A queda de 36% no lucro (R$ 21,2 bilhões) em 2012, divulgado na noite de segunda-feira, asso­ciada ao anúncio feito ontem ao mercado de uma política diferen­ciada na distribuição de dividen­dos derrubou as ações ordiná­rias (ON, com direito a voto) da companhia. Com um tombo de 8,3%, os papéis lideraram o ran­king das maiores perdas do prin­cipal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa.

Em pouco mais de um mês, a Petrobrás acumulou uma perda de R$ 30 bilhões em seu valor de mercado na Bolsa. A companhia encerrou o pregão com valor de R$ 224,830 bilhões, abaixo, por­tanto, do valor da empresa antes da megacapitalização de 2010. Em 23 de setembro daquele ano, antes da maior oferta de ações já realizada na história das bolsas de valores de todo o mundo, o valor de mercado da Petrobrás encerrou em R$ 252,648 bilhões, segundo dados da consultoria fi­nanceira Economática. No dia seguinte, após o aumento de ca­pital, o valor de mercado atingiu R$ 362,806 bilhões.

"Retrocesso". Essa é a primeira vez que a companhia propõe um valor de dividendos para as ON de cerca de metade do anuncia­do para as PN (preferenciais). O diretor financeiro da compa­nhia, Almir Barbassa, admitiu que a decisão foi tomada para preservar o caixa da Petrobrás.

Segundo ele, a empresa preci­saria desembolsar mais R$ 3,5 bi­lhões para oferecer às ON o mes­mo dividendos proposto às PN.

"Se colocarmos esses R$ 3 bi­lhões em uma plataforma, pode­remos retornar ao acionista um resultado muito maior (do que o valor pago via dividendo). Nossa prioridade é toda para a área de exploração e produção. Fare­mos qualquer coisa que puder­mos para converter (recursos) em ativos", destacou Graça.

O analista Emerson Leite, do Credit Suisse, disse, na telecon­ferência feita pela diretoria com analistas, considerar a medida um "retrocesso de governança". "Passa uma mensagem muito ruim para os acionistas." A esta­tal restringirá este ano os investi­mentos a projetos já em curso.

"Trabalhamos com metas o mais próximas possível da reali­dade. (...) Não existe para 2013 nenhum novo projeto. Neste ano não dá", disse Graça Foster, que rechaçou a hipótese de uma nova capitalização. A última ocorreu em 2010.

A queda expressiva do lucro lí­quido tem como um dos fatores, citado por Graça, a defasagem entre os preços de gasolina e do diesel importados e os de reven­da interna. Como a produção das refinarias brasileiras é insufi­ciente para abastecer o mercado doméstico, a Petrobrás tem que comprar combustíveis no exte­rior. A produção do refino não aumentará neste ano, disse.

Sem conforto. Os recentes rea­justes do gasolina (6,6%) e die­sel (5,4%) ficaram distanciados dos valores ideais para que a esta­tal repasse dentro do País os pre­ços integrais pagos no exterior. Para Graça, o aumento propicia­rá uma "melhoria de caixa", mas "não o suficiente para dar o con­forto da paridade" de preços.

A Petrobrás, repetiu a presi­dente, mantém a "busca perma­nente para a convergência inter­nacional". Para ela, a busca da convergência é fundamental pa­ra a previsibilidade do caixa de modo a que a Petrobrás possa, a partir de 2014, avaliar a entrada de novos projetos no portfólio.

Graça preferiu não revelar qual a defasagem de preços, sob a alegação de que o porcentual depende de uma série de variáveis e contas complexas, que ela mantém sob sigilo. Além de afas­tar a possibilidade de novas ini­ciativas em 2013, a executiva dis­se que continua "avaliando a economicidade" de projetos anti­gos, como as duas refinarias Premium (Ceará e Maranhão).

A produção de petróleo, que em 2012 registrou a primeira que­da desde 2004, não avançará nes­te ano. A meta de 2,022 milhões de barris/dia, será mantida, em­bora não tenha sido alcançada.