Título: Mercados voláteis elevam os riscos das empresas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2013, Economia, p. B2
O governo está interessado em estimular os investimentos das empresas, com vistas ao aumento da oferta de bens produzidos internamente. E, para isso, as empresas têm de tomar financiamentos e precisam encontrar um ambiente de baixa incerteza. Mas não é isso o que se vê, pois têm ocorrido oscilações muito grandes nas taxas de juros negociadas nos mercados futuros. Isso significa um aumento dos riscos, que não decorrem apenas das oscilações naturais dos mercados, mas da ação das autoridades, inclusive do Ministério da Fazenda e do Banco Central (BC).
As dificuldades de fazer projeções são cada vez maiores: em dezembro, grandes bancos chegaram a prever que o juro básico cairia para 6,25% ao ano até o final deste ano. Nos mercados futuros - um bom exemplo das oscilações chegou-se a prever uma Selic inferior a 7% ao ano, em janeiro de 2014, mas a taxa esperada voltou a subir e alguns bancos agora admitem que ela poderá alcançar 7,5% ao ano já em dezembro de 2013.
As oscilações têm relação, entre outros fatos, com o regime de flutuação "suja" da taxa de câmbio, que substituiu a regra de mais flexibilidade cambial. O câmbio, como se sabe, tem sido usado também para combater a inflação, poupando o BC de lançar mão do aperto monetário.
As oscilações de um contrato muito negociado, o DI Futuro/Swaps, foi de 10%, na semana passada, ante apenas 7%, em novembro, nos cálculos da corretora Nomura, citados pelo jornal Valor. "A volatilidade indica que o mercado está com dificuldade de traçar um cenário para o longo prazo, por causa de incertezas aqui e no exterior", afirmou um especialista.
Não há, de fato, como eliminar as incertezas. Mas quando elas decorrem de intervenções oficiais e são crescentes, os agentes econômicos têm maiores gastos com hedge para proteger seus ativos ou retardam investimentos. No Brasil, dado o peso do governo nos mercados, o grau de incerteza sobe ou cai por ação das autoridades - que tanto conseguem derrubar o valor do dólar a menos de R$ 2,00 quanto elevá-lo a mais de R$ 2,10, como ocorreu nos últimos dois meses. E o governo estuda, agora, mudanças no mercado DI, disse ao Estado o secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa. Com isso, cria mais dúvidas, até que se saiba melhor o que ele pretende fazer.
Para reduzir as incertezas, melhor seria a adoção de uma política fiscal mais austera, para balizar as expectativas. Oscilações demais podem pôr a perder os benefícios da enorme redução de juros, entre 2011 e 2012.