Título: Sobe para 238 número de mortos em Santa Maria
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2013, Metropole, p. C8

Sobreviventes e parentes das vítimas da tragédia na boate Kiss terão acompanhamento assistencial e de saúde por dois anos

Morreu ontem a 238.ª vítima do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), ocorrido em 27 de janeiro. Pedro Almei­da, de 20 anos, não resistiu à intoxicação pela fumaça e aos ferimentos. Ele estava interna­do na Santa Casa de Misericór­dia de Porto Alegre.

Natural de Santa Maria, Pedro se formou em Informática na Universidade Federal da cidade e trabalhou na Força Aérea Brasi­leira de agosto de 2011 a julho de 2012. Desde dezembro, trabalha­va como vendedor em uma loja.

Também ontem, o secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, Ciro Simoni, anunciou que so­breviventes, parentes, voluntá­rios e profissionais que participa­ram do socorro serão acompa­nhados por pelo menos dois anos por um serviço de assistên­cia que o Estado está montando. Profissionais de saúde serão orientados a buscar envolvidos no episódio e convidá-los a pas­sar por revisões periódicas, de acordo com cada caso.

"Há pessoas que podem ter problemas psicológicos e clíni­cos. Todos devem fazer exames rotineiros e periódicos para de­tectar eventuais patologias pos­teriores", explicou. "Em situa­ções como essa, é certo que quei­mados graves terão de passar por diversos procedimentos pa­ra recuperar a pele e teme-se que alguns envolvidos tenham de­pressão, complicação pulmonar e até alterações neurológicas."

Além de prestar assistência, o serviço do governo vai gerar co­nhecimentos para o futuro. "Em episódios como esse, há estatísti­cas como as de quem chega ao hospital e morre, quem chega e vai para a alta e até mesmo de suicídios", destaca Simoni, reve­lando que três internações feitas desde o incêndio foram motiva­das pelo temor de que o paciente atentasse contra a própria vida. "Por circunstâncias como essas, tanto os pacientes quanto as fa­mílias das vítimas precisam de acompanhamento prolongado."

Na mesma entrevista, Simoni e médicos que participaram do atendimento fizeram um balan­ço do uso de equipamentos e me­dicamentos enviados do exterior ao Rio Grande do Sul. Cedi­do pelo Canadá, o sistema de res­piração extracorpórea - espécie de pulmão artificial que oxigena o sangue fora do corpo - foi apli­cado em dois pacientes. O esta­do de um era muito grave e ele morreu no sábado. Outro ferido está evoluindo bem. "A máquina deve ser retirada amanhã (hoje) ou na quinta-feira", disse o espe­cialista em transplante de pulmão e cirurgia torácica da Uni­versidade de Toronto, Marcelo Cypel, que atendeu à solicitação do Ministério da Saúde e partici­pa do atendimento aos feridos.

O medicamento hidroxicobalamina, que chegou no sábado e foi doado pelos Estados Unidos, foi usado em 35 pacientes. Trata- se de um antídoto para o ciane­to, veneno formado pela com­bustão do poliuretano - compo­nente da espuma que revestia a boate Kiss.

A Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul afirmou que 11 pa­cientes tiveram alta ontem. Dos 81 feridos que permanecem in­ternados em sete hospitais de Porto Alegre, três são de Santa Maria, um de Canoas e um de Ca­xias do Sul. E 23 respiram com ventilação mecânica.