Título: Preço da cesta básica sobe mais de 10% em cidades do Nordeste
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2013, Economia, p. B5

Arroz, feijão e farinha, o prato típico do brasileiro pobre que vive no Nordeste, além do to­mate, foram os vilões do custo da cesta básica em janeiro. No mês passado, os preços da ces ta básica, que engloba 13 alimentos, subiu em todas as 18 capitais pesquisadas pelo De­parlamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A cesta é calculada a partir do mesmo grupo de produtos, mas em cada capital é atribuído um peso diferente para cada item, de acordo com o hábito de consumo local.

A maior alta foi registrada na cesta básica de Salvador, de 17,85%, seguida por mais duas ca­pitais do Nordeste, Aracaju (13,59%) e Natal (12,48%), além de Brasília (11,30%). A posição de destaque das capitais nordes­tinas, com variação mensal na ca­sa de dois dígitos, foi provocada pela alta da farinha de mandioca, alimento básico da região, cuja produção foi afetada pela seca.

O preço da farinha de mandio­ca subiu 66,67% em Salvador; 36,50%, em Natal e 35,38% em João Pessoa em janeiro. "A seca afetou a produção de mandioca e houve aumento na demanda re­gional", afirma Fernando Adura Martins, economista do Dieese.

O feijão também foi outro vi­lão da cesta básica e subiu em 16 das 18 capitais pesquisadas. João Figueiredo Ruas, técnico de Pla­nejamento da Companhia Nacio­nal de Abastecimento (Conab), diz que problemas climáticos afetaram a produção da primeira safra que está sendo colhida, os estoques do governo são baixíssi­mos, cerca de 2 mil toneladas e o abastecimento está "da mão pa­ra a boca".

"Normalmente em janeiro os preços do feijão caem por causa da entrada da safra, mas, neste ano, esse movimento não está ocorrendo porque o produto é escasso", diz Ruas. Segundo ele, os preços do feijão devem conti­nuar pressionados por algum tempo porque muitos produto­res substituíram o feijão pelo mi­lho no plantio da safrinha em ja­neiro.

No caso do arroz, o preço do cereal subiu em 12 de 18 capitais pesquisadas. Em Aracaju, por exemplo, aumentou 14,17% em janeiro, seguida por Florianópo­lis (13,68%).

Elcio Bento, analista sênior da consultoria Safras & Mercado, explica que essa pressão de preços ainda reflete a explosão da cotação dos grãos no mercado internacional no segundo semestre do ano passado. No rastro da soja e do milho, o preço do arroz que também é cotado na Bolsa de Chicago, acompanhou a alta das duas outras commodities e foi influenciado pela redução de produção nos países do Mercosul e pela alta do câmbio, já que parte do grão é importada de paí­ses vizinhos.

Além disso, como hoje a colhei­ta de arroz está no início e os es­toques de passagem no País es­tão muito baixos e somam 1,6 milhões de toneladas, a tendência é de que os preços se mantenham num patamar alto, mesmo com a entrada da safra, prevê Bento.

Tomate. Já o caso do tomate é diferente. O preço do produto subiu em todas as capitais pesquisa­das e as altas foram expressivas.

Em Aracaju, por exemplo, o preço mais que dobrou (104%). Mar­tins, do Dieese, destaca que o pi oduto foi afetado pelos exces­so de chuvas, que normalmente afeta a colheita de itens innatura em janeiro, Mas, ao contrário do arroz, do feijão e da mandioca, como o tomate tem um ciclo me­nor de produção, a oferta deve se regularizar em breve.

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, acredita que o pico de preços dos alimentos in natura foi em janeiro. Para o ar­roz e o feijão, cujos preços ainda estão sendo afetados pela quebra da última safra, ele prevê um cenário de cotações pressiona­das até o final de março, quando maior volume de produto entra no mercado e o preço cai.