Título: Ação do governo indica preocupação com explosão de preços
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2013, Economia, p. B1

Negócios no mercado de juros futuros ontem indicaram a percepção de investidores de que a taxa básica (Selic) suba meio ponto ainda em 2013. No mercado cambial, o dólar chegou a descer a R$ 1,96, fechando em R$ 1,97, cotação mais baixa desde maio do ano passado. Esses movimentos, registrados pela Agência Estado, resumem bem o clima pesado nos mercados depois da divulgação do IPCA de janeiro. E, ainda mais, depois da declaração do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que a trajetória da inflação não é confortável. O fato de que a preocupação de Tombini tenha sido expressa numa rara entrevista exclusiva, no caso à jornalista Miriam Leitão, das Organizações Globo, reforçou avaliações de que Tombini viera a público logo após o anúncio da mais alta variação mensal de inflação desde 2005 para transmitir a mensagem de que a política monetária poderia mudar antes do sinalizado pelo Banco Central em seus relatórios ao público, como medida para conter os preços em vias de sair do controle.

Ainda que já fosse mais do que previsível que a variação do IPCA, nos primeiros meses de 2013, poderia até ultrapassar o teto da meta de inflação, em 12 meses, e que todas as preocupações admitidas ontem por Tombini já estivessem registradas na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), está claro que pintou um clima para uma escalada nas críticas à política econômica do governo – o que, aliás, também era tão previsível quanto as altas de agora nos preços.

Assessores de Tombini asseguram que as preocupações do presidente do BC com a inflação não chegam ao ponto de considerar a ameaça de um descontrole nos preços. Ele manteria, segundo esses assessores, convicção de que, no segundo semestre, ocorrerá um alívio, puxado pela redução das pressões dos alimentos, permitindo que a variação do IPCA feche o ano abaixo dos 5,84% de 2012. Nesse aspecto,diga-se,Tombini está em sintonia com analistas de mercado. A consultoria LCA, por exemplo, projeta inflação acima de 6% até agosto, com picos de 6,4% em março e junho, mas declinando a partir de setembro até encerrar 2013 com taxa de 5,44%. A reação do mercado à aceleração do IPCA pode refletir um daqueles exageros que volta e meia o acometem. Mas também não é possível escapar da constatação de que a inflação, no momento, opera como combustível altamente inflamável para a condução da política econômica e traz grande preocupação ao governo.

Primeiro porque,de fato, a inflação está generalizada. A contaminação atinge hoje três em cada quatro itens que compõem o índice, um recorde de difusão de altas só comparável com o registrado em maio de 2003. Depois,e mais revelador, pelo esforço de Brasília na tentativa de administrar diretamente o índice de inflação. Estão aí as mudanças na política cambial, os adiamentos de reajustes de tarifas de transporte urbano e a promessa de desoneração da cesta básica. Estão também os aumentos inferiores aos necessários nos preços dos combustíveis, assim como a antecipação dos cortes nas tarifas de energia elétrica. Conhecemos essas manobras, que, aliás, nunca deram muito certo, de outros e tristes tempos na economia.