Título: Para governo, inflação sobe a um nível desconfortável
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2013, Economia, p. B1

BC indica que taxa pode ficar alta nos próximos meses, mas vai cair no 2º semestre a cerca de 5,6% ou ‘um pouco acima

A resistência do índice oficial de inflação em cair preocupa o governo. A alta de 0,86% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro jogou a taxa anual para 6,15%, um patamar considerado “desconfortável” pela sua proximidade com o teto da meta, que é de 6,5%. O Banco Central avalia que, nos próximos meses, a inflação anual pode continuar elevada, os índices mensais devem apresentar volatilidade, mas até o fim do ano a alta de preços deve se acomodar em cerca de 5,6% ou “um pouco acima”, mesma aposta do mercado financeiro. Não é só a escalada de preços que surpreende. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram uma inflação resistente e se expandindo por diversos setores.

No mês passado, 75,07% dos produtos pesquisados tiveram aumento de preço. Em dezembro, o índice de difusão se situava em 70,7%. Quando a economia está com um comportamento dentro da normalidade, esse índice é, em geral, de 60%. O movimento acelerado foi registrado pelo Banco Central, que aponta dois fatores para esse resultado: a reversão de desonerações e o consequente aumento de impostos. Além disso, o preço dos cigarros e o item alimentação tiveram forte alta no mês passado, o que, na avaliação do BC,descaracteriza uma inflação de demanda.

O cenário atual da diretoria do Banco Central é de um recuo da inflação anual a partir do segundo semestre. Enquanto isso, está instalado o “estado de vigilância permanente”. “A inflação preocupa no curto prazo. O quadro deve ser monitorado”, comentou uma fonte.

Desonerações

Indagado sobre as medidas que podem ser adotadas para reverter a tendência de alta da inflação, o BC se cala e repete que a orientação é monitorar os preços. O Palácio do Planalto, por sua vez, lembra que a presidente Dilma Rousseff está atuando para a adoção de novas desonerações, principalmente para a cesta básica. A ideia é uma desoneração integral dos impostos federais que incidem sobre os produtos que compõem a cesta. A tendência é a desoneração do PIS/Cofins, já aplicada ao arroz e feijão. A medida, no entanto, ainda deve demorar um pouco porque a presidente pediu ao Ministério da Fazenda que modifique os itens da cesta básica. A agenda do governo é continuar desonerando o investimento, a produção e o emprego.

No ano passado, como comentou a presidente em entrevista à radialistas do Paraná no início da semana, as desonerações somaram R$ 46 bilhões e o programa deste ano devem atingir R$ 53 bilhões, se houver uma recuperação –mesmo que mais lenta – da economia. Em relação a inflação, a aposta do Planalto é que, apesar da pressão do preço dos combustíveis e das tarifas de transporte urbano, a redução do custo da energia será um fator importante para a queda dos preços.