Título: Obstáculos à recuperação da indústria em 2013
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2013, Economia, p. B2

A Confederação Nacionalda Indústria (CNI) considerou 2012 “um ano perdido” para o setor de transformação, ao divulgar, anteontem, a pesquisa Indicadores Industriais. Ao mesmo tempo, os dados regionais sobre a produção física, calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram a extensão da queda do setor secundário no ano passado. Não bastassem os resultados negativos, cabe confrontar o otimismo de alguns analistas relativo a este ano com alguns obstáculos a uma recuperação mais vigorosa da indústria.

Comparando 2011 e 2012, a CNI constatou uma queda de 1,5% no número de horas trabalhadas (entre novembro e dezembro, a queda foi de 8,8%) e de 0,2% no emprego industrial. De fato, o faturamento real aumentou 2,4% na comparação anual, mas caiu 5,2% entre novembro e dezembro» E a massa salarial crescia 5,1% reais, na comparação anual, e o rendimento médio real, 5,3%.

Ou seja, os rendimentos avançaram o dobro do faturamento e houve queda da produtividade, agravada pelo recuo da utilização da capacidade instalada, em dados dessazonalizados, de 81,5%, em dezembro de 2011, ira 80,9%, em dezembro de 2012. Será preciso acompanhar com atenção a evolução do emprego industrial.

Os dados regionais do IBGE retrataram não apenas a forte desaceleração dos últimos 12 meses, mas o fato de que algumas regiões que concentram a produção de bens de consumo duráveis e bens de capital foram mais atingidas, salvo Minas Gerais. Das 14 áreas pesquisadas, a queda foi maior no Amazonas (-7%), Espírito Santo (-6,3%), Rio de Janeiro (-5,6%), Paraná (-4,8%), Rio Grande do Sul (-4,6%), São Paulo (-3,9%) e em Santa Catarina (-2,7%). Os recuos foram menos intensos no Ceará e no Pará.

Dada a base baixa de 2012, a recuperação industrial em 2013 é, estatisticamente, provável. Resta saber sua intensidade. No plano macroeconômico, a valorização do real das últimas semanas torna as importações mais baratas e as exportações mais difíceis. O produto nacional continuará concorrendo em posição desfavorável com o importado. A política de incentivos localizados acentua o desequilíbrio entre os vários setores.

A redução de custos de logística poderia elevar a competitividade da indústria, mas ela depende da eficiência dos investimentos federais, ao contrário do que ocorreu até agora.

Afinal, os índices de confiança têm oscilado, inclusive em setores relevantes para o ritmo da atividade, como a construção civil, como mostraram as últimas sondagens da FGV.