Título: Só aplicações arrojadas superam inflação de janeiro
Autor: Gerbelli, Luiz Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2013, Economia, p. B3

Cenário de juro baixo e inflação em alta fez com que as aplicações conservadoras tivessem um desempenho ruim no mês passado

SÃO PAULO - Os investimentos mais sofisticados foram os únicos que tiveram rendimento superior a variação da inflação oficial de janeiro. A melhor rentabilidade no mês foi dos fundos Long and Short, segundo o levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Esses fundos são da categoria multimercado e bastante arrojados. Os gestores costumam posicionar o fundo para ficar comprado nos ativos que devem subir de preço e vendido nos ativos com aposta de queda nos preços.

As aplicações mais conservadoras tiveram perdas na comparação com o IPCA. A poupança tanto a velha (com rendimento de 0,50% ao mês mais a TR) como a nova (com variação de 70% da Selic) tiveram um desempenho bem abaixo da inflação oficial.

Os resultados dos investimentos de janeiro reafirmam a tese de que o brasileiro terá de deixar a zona de conforto para ter um ganho representativo da quantia aplicada, sobretudo num cenário de inflação elevada. Isso significa que será preciso correr mais risco e alongar o prazo das aplicações.

"Estamos vivendo um momento de transição desde 2012. No fim das contas, o que fica mais claro é que obter ganhos no curto prazo fica com uma expectativa menor", diz Carlos Massaru, vice-presidente da Anbima. "Se o investidor quiser oportunidades de rentabilidade maior, terá de correr mais risco. Isso implica na questão do prazo e, de certa forma, será preciso ter mais paciência e critério", diz Massaru. "O brasileiro também vai ter de buscar opções menos óbvias."

Uma das recomendações dos analistas para esse momento de inflação alta é apostar nos títulos do Tesouro da série NTN-B, cuja rentabilidade está atrelada ao IPCA. Ontem, um título da série NTN-B Principal com vencimento em agosto de 2024 estava pagando 4,15% mais a variação da inflação (6,15%), o que garantia um ganho bruto de quase 10,5% ao ano - no início da semana, o papel oferecia 3,9% mais a variação do IPCA. "Houve esse aumento até por causa da curva de inflação. Até o meio do ano, o mercado acredita que a inflação deve atingir o teto da meta, que é de 6,5%", afirmou Roberto Indech, da equipe de equity sales do home broker Rico.

Em janeiro, o volume negociado dos papéis NTN-B teve uma elevação "significativa", de acordo com o relatório da Anbima. O montante total foi de R$ 96,9 bilhões. O resultado apurado foi maior do que o volume somado dos títulos pré-fixados - LTN/NTN-F -, que movimentaram R$ 87,8 bilhões.

No mercado de ações, os papéis que podem se beneficiar da inflação são os das empresas de concessão de rodovia, diz Indech. "Nesse caso, o pedágio é reajustado de acordo com a inflação, seja pelo IGP-M ou IPCA", afirma Indech.

Títulos privados. O mercado de debêntures (título de dívida emitido por empresas) também pode ser uma opção para quem deseja ter um ganho acima da inflação. "Esses papéis tendem a render mais do que o título público. Existe um risco maior, mas algumas debêntures estão atreladas ao IGP-DI, que historicamente é sempre maior do que o IPCA", diz Otto Nogami, professor do Insper.

Na avaliação de Nogami, o investidor deve sim alongar o prazo dos investimento, "mas sempre pronto para mudar de posição." "Não é para escolher um determinado papel e ficar ancorado nele até o fim da vida. Se o investidor quiser aumentar os seus rendimentos o máximo possível, ele tem de estar atento aos movimentos do mercado."

Captação. Em janeiro, a indústria de fundos teve a maior captação para o mês desde o início da série histórica da Anbima, em 2002. Foram R$ 21,6 bilhões. Os dados foram divulgados ontem. O montante foi impulsionado pelos recursos nas categorias renda fixa e curto prazo. O resultado poderia ter sido melhor se R$ 6,6 bilhões não tivessem sido resgatados da categoria multimercados. Vale lembrar ainda que a poupança teve uma boa captação em janeiro - a melhor para o mês desde 2010. Segundo dados do Banco Central, ao longo do mês passado, foram feitos R$ 113 bilhões depósitos, enquanto os saques somaram R$ 110 bilhões.