Título: Obama tira metade das tropas do Afeganistão
Autor: Marin, Denise Ckrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2013, Internacional, p. A7

Em seu principal discurso do ano à Nação, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciaria na noite de ontem a retirada de 34 mil dos 66 mü militares americanos do Afeganistão até o final deste ano. Gomo previsto desde meados de 2010, a retirada deverá ser concluída até dezembro do próximo ano. Parte do contingente deve permanecer no país depois de janeiro de 2015.

A informação foi estrategicamente vazada pela Casa Branca na manhã de ontem. O discurso sobre o Estado da União se concentraria menos em questões de Política Externa e de Defesa e mais na agenda de Obama para a recuperação da economia americana, com insistentes chamados à bancada republicana no Congresso para a conciliação com os democratas na discussão sobre os cortes de gastos públicos federais neste e nos próximos oito anos. O fortalecimento e a expansão da classe média estaria no cerne de seu discurso.

Obama iniciaria seu quarto Estado da União no plenário do Congresso dos EUA, às 21 horas de ontem (meia-noite, em Brasília) . No ano passado, seu discurso foi assistido por 38 milhões americanos - apenas 12% da população. Na condição de convidados da primeira-dama, Michelle Obama, 25 pessoas terão visão privilegiada. Entre elas, o presidente da Apple, Tim Cook, e Valerie Jarret, conselheira sênior do presidente e influente amiga da família.

Convidados. O convite de Michelle a Brian Murphy, primeiro policial a socorrer as vítimas de um atirador em um templo sikh emWisconsin, em agosto passado, e à professora e maratonista Kaitlin Roig, que escondeu seus alunos durante o ataque de um atirador na escola Sandy Hook, em dezembro, enfatizaria o apelo de Obama pela aprovação do Congresso à proibição da venda de fuzis de assalto.

Da mesma forma, a presença do sargento Carlos Evans, que perdeu as pernas e os braços no Afeganistão, traria uma imagem do custo humano dessa guerra, que dura quase doze anos. Nesse período, 2.177 militares americanos foram mortos e 17.764 foram feridos, segundo a organização iCasualties. O conflito impôs gasto federal de US$ 557 bilhões entre 2001 e 2012.

O anúncio da retirada dos 34 mil soldados neste ano reforça o compromisso anterior assumido por Obama de pôr fim também a esta guerra, como o fez com a guerra do Iraque, encerrada em dezembro de 2011. Com as tropas, sairão equipamentos, estruturas e armas militares, em uma operação que deve depender de uma melhor relação dos EUA com a Rússia e com o Paquistão.

Em janeiro, Obama havia discutido o tema com o presidente afegão, Hamid Karzai, na Casa Branca. Ambos concordaram com o repasse mais acelerado da responsabilidade pela segurança do Afeganistão para seu governo, neste ano, e com as negociações de paz com o Taleban.

Mas não chegaram a um acordo sobre a permanência de soldados americanos a partir de 2015. Os EUA exigem imunidade legal para suas tropas. O Afeganistão rejeita essa concessão. O governo americano estima ser necessário manter entre 3 mil e 15 mil soldados no Afeganistão para ações de contraterrorismo. Os EUA chegaram a ter 100 mil militares no país, em 2010.

Pressão. Três meses depois de ser reeleito, o presidente democrata tenta aprovar projeto s significativos em questões de economia, controle de armas e reforma imigratória, mas analistas dizem que ele terá apenas cerca de um ano para fazer isso.

"Ele basicamente tem um ano para grandes feitos legislativos, porque depois do primeiro ano você entra nas eleições do meio do mandato, que serão parcialmente um referendo sobre a sua presidência", disse Michele Swers, professora-associada de governo americano na Universidade Georgetown.

"Não quero dizer que será o último discurso importante que ele fará, mas a janela para um presidente em segundo mandato é bastante estreita", disse Tony Fratto, que foi porta-voz da Casa Branca no governo do republicano George W. Bush. / CM REUTERS