Título: Afinidade partidária para uns, prática imoral para outros
Autor: Boghossian, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2013, Nacional, p. A4

Ainda que não exista "óbice legal", doações para campanhas de outros partidos coligados dividem os especialistas

O financiamento de campanhas de aliados foi citado tanto como prova de acusação quanto como tese de defesa no julgamento do mensalão. A Procuradoria-Geral da República apontou que o PT teria repassado R$4 milhões para o PTB na eleição de 2004 em troca de apoio no Congres­so. Os advogados dos acusados afirmam que as transferências são legais.

Juristas e especialistas em campanhas políticas também têm interpretações diversas so­bre os pagamentos. Walter Cos­ta Porto, ex-ministro do Tribu­nal Superior Eleitoral (TSE), não desconfia da legitimidade dos repasses. "Os partidos se uni­ram para um propósito comum, então é natural que as legendas com mais recursos financiem as demais", argumenta.

Flávio Britto, cientista políti­co da UnB, também afirma que não há "óbice formal" aos paga­mentos, "por mais que possa­mos achar que é imoral". Seu co­lega de universidade Ricardo Cal­das concorda: "Se os partidos já estavam coligados, é porque hou­ve uma afinidade entre eles - se­ja ideológica ou eleitoral".

Outros dois cientistas enca­ram o expediente com suspeitas. "É legal, é legítimo, mas, do pon­to de vista moral, esse tipo de atividade passa a sugerir a exis­tência de uma compra ou de um acúmulo de apoio com base em recursos extraordinários", diz Humberto Dantas, da USP. Ma­ria do Socorro Braga, da Univer­sidade Federal de São Carlos, en­tende que os repasses são uma moeda de troca pragmática. "In­teressa ao candidato a prefeito ajudar os partidos que possam contribuir para a sua governabili­dade no futuro. A moeda de tro­ca é uma ajuda financeira."