Título: Partidos injetaram quase R$ 61 milhões em campanhas de seus aliados em 2012
Autor: Boghossian, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2013, Nacional, p. A4

Sistema eleitoral. PT e PSDB foram as siglas que mais fizeram repasses a seus aliados para ajudar a eleger prefeitos ou vereadores; em São Paulo, por exemplo, petistas doaram R$ 6 milhões a campanhas do PP, PC do B e PSB para obter apoio à eleição de Haddad

Os partidos brasileiros paga­ram quase R$ 61 milhões para financiar campanhas de ou­tras siglas nas eleições munici­pais de 2012. O dinheiro foi re­passado por diretórios e comi­tês partidários para ajudar candidatos de legendas alia­das. Na maior parte dos casos, partidos que tinham candida­tos a prefeito fizeram paga­mentos para as campanhas a vereador das siglas que os apoiavam.

O Estado analisou 1.625 repas­ses acima de R$ 100 mil feitos pelos partidos nas eleições do ano passado e identificou 211 transferências entre as legendas - os demais repasses foram pa­rar em contas de candidatos da mesma sigla que fez o pagamen­to. As transferências interpartidárias somam R$ 60,9 milhões, o que representa 5,9% do total de R$ 1 bilhão que circulou nesse universo. Os repasses são legais e foram registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) duran­te a campanha.

O PT foi quem transferiu mais dinheiro a aliados: R$ 18,5 mi­lhões. Em São Paulo, o PT repas­sou quase R$6 milhões às campa­nhas de vereadores dos três parti­dos que apoiavam Fernando Had­dad: PP (R$ 3 milhões), PC do B (R$ 2,1 milhões) e PSB (R$ 850 mil). Os repasses do PT beneficiaram siglas como o PP do Recife, que apoiava o petista Humberto Costa na disputa pela prefeitura e recebeu R$ 1,3 milhão.

Petistas também deram quase R$ 2 milhões para ajudar a eleger Gustavo Fruet (PDT) em Curiti­ba - a vitória de Fruet era consi­derada importante para a dispu­ta pelo governo do Paraná em 2014, quando o PDT deve apoiar os petistas Gleisi Hoffman ou Paulo Bernardo.

Outra doação volumosa par­tiu do PT de São Bernardo do Campo (SP), que repassou R$ 5,4 milhões a 15 partidos que apoiavam a reeleição de Luiz Ma- rinho à prefeitura. O dinheiro foi para os comitês de candidatos a vereador de siglas maiores, co­mo o PTB (R$ 752 mil) e o PC do B (R$ 660 mil), e menores, como o PTC (R$ 40 mil) e o PSDC (R$ 19 mil). Marinho venceu a dispu­ta e sua coligação elegeu 19 dos 28 vereadores do município.

Barganha? Cientistas políticos e especialistas em direito eleito­ral divergem na avaliação desses pagamentos: alguns acreditam que os repasses representam apenas o financiamento coletivo de um projeto político; outros afirmam que as transferências contêm indícios de uma barga­nha por apoio eleitoral.

A quantia movimentada entre partidos é suficiente para finan­ciar uma campanha eleitoral de grande porte. O comitê de Fernando Haddad (PT), por exem­plo, desembolsou R$ 67,9 mi­lhões para eleger o novo prefeito da capital paulista.

Segundo no ranking. O PSDB foi o segundo partido que mais ajudou siglas amigas, com repas­ses de R$ 10,5 milhões. Parte do dinheiro financiou campanhas de candidatos a prefeito de ou­tros partidos, como Marcio La­cerda, do PSB de Belo Horizonte (R$ 1 milhão), Luciano Ducci, do PSB de Curitiba (R$ 264mil), e Alex Manente, do PPS de São Bernardo do Campo (R$ 200 mil).

O PSDB paulista repassou R$ 950 mil à direção nacional do DEM, um de seus principais alia­dos no Estado. Em São José dos Campos, os tucanos repassaram mais R$ 142 mil ao Democratas, que apoiava o candidato do PSDB a prefeito.

Na capital paulista, o PRB apostou as fichas na eleição de Celso Russomanno (que termi­nou em terceiro lugar) e ajudou os aliados, distribuindo R$ 400 mil ao PT do B, ao PHS e ao PTN.

Rio. A campanha de Eduardo Paes (PMDB) no Rio fez repas­ses a três partidos de sua coliga­ção: R$ 241 mil ao PSDC, R$ 150 mil ao PTB e R$ 100 mil ao PSL.

O PV de Palmas distribuiu dinheiro entre os aliados do candi­dato do partido à prefeitura. Campanhas a vereador do DEM receberam mais de R$ 400 mil; o PMDB foi beneficiado com qua­se R$ 300 mil; o PSDB recebeu duas transferências que soma­ram R$ 236 mil; e o PSD obteve R$ 155 mil.

Receptor universal. O DEM foi o partido que mais recebeu recursos de outras siglas: quase R$ 7 milhões. Metade desse di­nheiro saiu dos cofres do PSDB, que ainda tenta manter o comba­lido aliado, desestruturado após a criação do PSD, no espectro de alianças para 2014.

O PDT obteve o melhor "custo-benefício". O partido fez apenas um repasse de R$ 100 mil, para o PT de Passo Fundo (RS), mas re­cebeu o segundo maior volume de recursos, R$ 6,6 milhões - a maior parte do PT e do PMDB.