Título: França vira aliada em briga de câmbio
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2013, Economia, p. B6

Com valorização do euro, políticos franceses passam a fazer coro com ministro Guido Mantega sobre controle internacional de moedas

A "guerra das moedas" che­gou aos países ricos. Por isso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai ganhar um alia­do inesperado esta semana, na reunião do G-20 na Rússia, em seu apelo por uma coordena­ção internacional sobre taxas de câmbio: a França.

Diante da valorização do euro, Paris já prevê a perda de competi­tividade de suas exportações, justamente no momento em que a Europa busca nos mercados ex­ternos sua recuperação. Diante dessa ameaça, a França vai propor hoje à zona do euro que uma política de câmbio seja formula­da e, no fim da semana, vai pôr o assunto na pauta da reunião do G-20, que se realiza em Moscou.

Há três anos, Mantega vem in­sistindo que a injeção de trilhões de dólares por países ricos para incentivar uma recuperação es­tava, na prática, sendo canaliza­da para mercados emergentes como o Brasil e provocando pres­são sobre o câmbio. O resultado: dificuldades ainda maiores para exportar e gastos do BC para manter o real.

Em diversas visitas da presi­dente Dilma Rousseff pela Euro­pa, seus apelos por uma coorde­nação dos países foram ignora­dos. A chanceler Angela Merkel chegou a indicar que o problema era brasileiro e que, ao colocar € 1 trilhão na economia do bloco, a UE não estava avaliando o que ocorreria no resto do mundo, mas sim salvando sua casa de um desmoronamento.

Agora, porém, os europeus co­meçam a sofrer com a valoriza­ção do euro. Com os sinais de retomada, é a vez de a moeda úni­ca ser alvo de investidores, o que atrapalha as exportações. A Eu­ropa também critica a suposta desvalorização competitiva que o Japão estaria realizando justa­mente para animar as vendas ex­ternas de sua indústria.

Outros analistas deixam claro que, longe dos holofotes, a "guer­ra das moedas" já está em anda­mento. Investidores estão aban­donando o iene diante da reação do BC de Tóquio. Só em 2013, o euro já ganhou 9% em relação à moeda japonesa. "De um lado, estamos vendo um retorno dos investidores para a Europa e, de outro, o Japão disposto a desva­lorizar sua moeda", declarou James Know, da Amundi, em nota a investidores.

O presidente francês, François Hollande, já deixou claro que essa situação não poderá ser tolerada. Hoje, Paris vai introduzir pela primeira vez na agenda do Eurogrupo (grupo de países que usam o euro) a necessidade de que o bloco tome medidas pa­ra frear essa valorização.

Mas, dentro do bloco euro­peu, a posição de Paris é unâni­me. O ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schâuble, manifestou sua reprovação em relação à atitude japonesa. O go­verno alemão dá sinais de que desvalorizar o euro não seria a solução.

Para a França, porém, o assun­to não pode se limitar à zona do euro. Paris quer que,na sexta-fei­ra, os ministros de Finanças e BCs do G-20 tratem do proble­ma e que o assunto esteja na pau­ta da cúpula do grupo, em setembro. A meta é de que uma coorde­nação seja estabelecida, justa­mente para evitar desvaloriza­ções como a do Japão.

União. Paris já partiu em busca de aliados, entre eles o Brasil. No entanto, o problema do euro po­de acabar sendo uma vantagem para as exportações brasileiras e ajudaria até mesmo a reduzir a alta nas importações do bloco europeu nos últimos meses.

Analistas mais irônicos apon­tam que, tanto Brasil quanto França, tentam usar a desculpa do câmbio para justificar a perda de competitividade de sua indústria. "Muitos viram as declara­ções de Mantega como uma cor­tina de fumaça para algo mais grave no Brasil, e que acabou se comprovando com o baixo cres­cimento de 2012", disse um ana­lista de um banco em Genebra, que pediu para não ser identifica­do. "Na França, todos sabem que a indústria está perdendo ca­da vez mais terreno e Hollande precisa encontrar um culpado."

Outro país que está sendo cor­tejado pelos franceses é a Coreia do Sul, que também sofre com a desvalorização da moeda do Ja­pão, que coloca os produtos ele­trônicos de Tóquio em vanta­gem. Diante de eventual pressão no G-20, Tóquio já deu sinais de que amenizaria a medida. O go­verno já admite que a queda de sua moeda foi excessiva.

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