Título: Graça alerta Mantega para dívida da Petrobrás
Autor: Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2013, Economia, p. B3

Presidente da estatal diz que piora das condições financeiras pode provocar o rebaixamento da classificação de risco da empresa

A presidente da Petrobrás, Graça Foster, apresentou nes­ta semana ao ministro da Fa­zenda e presidente do conse­lho de administração da com­panhia, Guido Mantega, um ce­nário alarmante para o endivi­damento da empresa neste ano, segundo fonte ouvida pe­la "Agência Estado".

Mantendo as atuais condi­ções, a alavancagem passará no quarto trimestre para 3,5 vezes a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa (Ebitda). Este resultado levaria a companhia a ter sua nota rebaixada por agên­cias de classificação de risco e perder o "grau de investimen­to". O quadro mostra a necessi­dade de reforçar o caixa da em­presa, por exemplo, com novo aumento de combustíveis ao lon­go do ano.

Fundos internacionais que têm como premissa só investir em empresas com grau de inves­timento seriam obrigados a se desfazer do papel.

Empréstimos da empresa vin­culados a esta classificação tam­bém seriam automaticamente reajustados, aumentando o cus­to da já enorme dívida da empre­sa, entre outros efeitos.

O limite de conforto fixado in­ternamente pela Petrobrás é de 2,5 vezes; o máximo aceitável se­ria uma alavancagem de 3 vezes. O nível de segurança foi ultrapas­sado no resultado do quarto tri­mestre de 2012, apresentado na segunda-feira, conforme anteci­para a Broadcast, serviço em tem­po real da Agência Estado. O indi­cador saiu de 1,66 vez no quarto trimestre de 2011 pára 2,77 vezes no quarto trimestre de 2012, sur­preendendo o mercado.

No terceiro trimestre, a rela­ção já estava em 2,42 vezes. Na terça-feira, um dia depois de ser comunicado pela diretoria da Pe­trobrás sobre a previsão para o agravamento do endividamento da companhia, Mantega mudou de discurso e admitiu um contro­le menos rigoroso sobre os pre­ços dos combustíveis na refina­ria.

"Nós procuraremos estar mais colados à variação de pre-ços do barril de petróleo lá fora para que não haja, digamos, ne­nhum prejuízo para a Petro­brás" disse o ministro em Brasí­lia.

Mantega descartou, na oca­sião, nova elevação dos combus­tíveis. O recado dado à imprensa foi o mesmo passado interna­mente para a presidente Graça Foster na segunda-feira. "Nós acabamos de dar um aumento pa­ra a gasolina, portanto, não me parece oportuno falarmos de um novo aumento", disse.

Naentrevistadeterça-feirapa- ra a divulgação do balanço, o Rio, a presidente Graça Foster consi­derou a situação de endivida­mento "preocupante" e reconhe­ceu que o indicador poderia pas­sar de 2,77 vezes durante o ano.

Para resolver o problema a Pe­trobrás teria que elevar a gera­ção de caixa ou reduzir o endivi­damento. A venda de ativos no exterior é uma dos poucos recur­sos que a empresa pode lançar mão sem necessidade de qual­quer interferência. Outra medi­da que está sendo articulada é encontrar sócios para seus em­preendimentos, de forma a redu­zir os investimentos sem cortar projetos. Graça revelou na terça- feira, por exemplo, que as refina­rias Premium I e II (Maranhão e Ceará) devem sair com sócios. A previsão da diretoria da compa­nhia já considera o impacto de alívios anunciados que terão efei­to positivo para o caixa da empre­sa. É o caso dos reajustes de 6,6% na gasolina e de 5,4% no diesel de janeiro e do efeito indireto do au­mento da mistura do etanol na gasolina, a partir de 1.° de maio.

A previsão domercado é que o aumento injete entre R$ 6,9 bi­lhões e R$ 7,8 bilhões no caixa da empresa ao longo do ano. O endi­vidamento líquido da Petrobrás em reais aumentou 43% no quar­to trimestre de 2012 em relação ao quarto trimestre de 2011, para R$ 147,8 bilhões. Segundo a Pe­trobrás, a alta ocorreu em decor­rência de captações de longo pra­zo e do impacto da depreciação cambial de 8,9% no período. O endividamento bruto está em R$ 196,3 bilhões.