Título: Eduardo Campos não vai fazer o haraquiri
Autor: Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2013, Nacional, p. A6

Petista admite que o PSB, dirigido pelo governador de Pernambuco, adquiriu maior visibilidade, mas não crê em rompimento

Uma das principais lideranças do Partido dos Trabalhadores na região Nordeste, o governador de Sergipe, Marcelo Déda, não vê o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), como ameaça ao projeto de reeleiçao da presidente Dilma Rousseff.

"A ascensão de Eduardo Campos fortalece um campo político cuja maior responsabilidade é dar sustentação ao projeto que Dilma e Lula lideraram", afirmou Déda em entrevista ao Estado. Na avaliação do governador, que está sob tratamento para cuidar de um câncer no estômago, "Recife fica muito longe de Tóquio" e "Eduardo Campos não faria haraquiri (o suicídio ritual dos japoneses)" para se aliar numa chapa com o senador Aécio Neves (PSDB).

• O PT acumulou derrotas expressivas em capitais nordestinas em 2012. Teve a disputa fratricida no Recite, o resultado em Fortaleza, em Salvador... Como o sr. vê a situação do partido na região, com o PSB ganhando mais espaço?

Quando você examina o mapa do Brasil, você tem condições de perceber quais forças poiftpolíticas saíram mais fortalecidas de uma eleição municipal. É claro que, na vitrine da política brasileira, o lugar onde estão agora o PSB e o governador Eduardo Campos é um lugar de maior visibilidade, graças ao resultado eleitoral. Mas também por parte do PT, a vitória em São Paulo e a vitória em número de votos do partido mostrou que não perdemos o nosso lugar na virrine. Tem mais gente chegando perto da gente, mas quem está na parte mais alta da vitrine ainda é o PT.

• A presidente Dilma Rousseff está tentando consolidar a sua imagem na região Nordeste. Na avaliação do sr., qual imagem ela está construindo para sua candidatura à reeleição?

As imagens do Lula e a da presidente Dilma têm uma amplitude muito maior do que os limites eleitorais do PT. O grande segredo da votação da Dilma e do prestígio do Lula no Nordeste é explicado pela prioridade que ambos os governos deram à região. Quem observa a presidente Dilma com algum cuidado vai chegar à conclusâo de que ela tem uma refinada sabedoria politica. Tenho para mim que, em 2014, mais do que legados individuais, o Brasil vai julgar uma era. Porque as pessoas têm perfeita compreensão de que, não obstante as inovações que Dilma traga, as diferenças de estilo e de perfil, ambos (Lula e Dilma) integram o mesmo projeto.

• A ascensão de Eduardo Campos não ameaça o projeto de reeleição da presidente Dilma? Não acredito. A ascensão de Eduardo Campos fortalece um campo político cuja maior responsabilidade é dar sustentação ao projeto que Dilma e Lula lideraram. Não consigo ver o governador Eduardo Campos liderando um rompimento com esse projeto que ele ajudou a construir e do qual é um dos principais líderes. Agora, você não pode reprimir desejo de aliado. O diálogo é de mão dupla, não é apenas nós falarmos a Eduardo Campos o que queremos, é também termos ouvidos abertos para ouvir as pretensões que esses aliados trazem. O governador Eduardo Campos, a cada dia, se legitima como liderança nacional, mas isso não é garantia de êxito em eleições. A palavra de ordem, quando dentro de uma coligação um aliado se fortalece, não é re pressão, é sedução.

• Como, então, seduzir o governador Eduardo Campos?

Na política, que é algo que ele sabe fazer como poucos. É mostrar a Eduardo Campos o papel estratégico do partido e da liderança dele na continuidade do governo Dilma. Mostrar que a discussão que gira em torno da sustentação do governo não é excludente, onde o crescimento de um partido tem de significar a exclusão de outro. É, pelo contrário, o exercício de ampliação do diálogo.

• Em 2018, o PT poderia ceder a cabeça de chapa numa candidatura presidencial para algum partido da base aliada?

Sou suspeito para falar sobre isso, porque sou conhecido na base do governo como um aliancista. Não acho nada estranho que a responsabilidade de conduzir o processo em 2018, ou 2022, ou sei lá quando, possa ser de um dos partidos aliados.

• Eduardo Campos em 2018 com o apoio do PT é mais viável do que em voo sob em 2014? Não sei. Considero que, tudo bem, há uma larga avenida a percorrer, mas qualquer candidatura que se opuser à presidenta Dilma é uma candidatura com dificuldades eleitorais, de pouca viabilidade eleitoral.

• E uma eventual chapa Aécio Neves/Eduardo Campos? Recife fica muito longe de Tóquio. Eduardo Campos não faria haraquiri, o suicidio ritual dos japoneses.

• Como fica o PT pós—mensalão? O julgamento foi feito, há recursos a serem julgados, a Justiça se pronunciou sobre a causa. Os réus têm direito de reunir seus amigos e captar recursos para cumprir a decisão do Supremo. Agora, o PT não pode colocar na sua agenda o enfrentamento do Supremo, não é tarefa do partido. O Supremo criou um padrão, a nação brasileira espera que esse padrão não seja exceção. O julgamento do mensalão do PSDB será o grande momento de o STD mostrar isso.