Título: Bom momento da economia e exposição na mídia devem selar reeleição de Correa
Autor: Raatz, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2013, Internacional, p. A9

Equador. Apesar de união de forças entre opositores, que tentam arrastar disputa para o 2° turno, presidente equatoriano tem ampla vantagem na eleição de hoje; maior estabilidade econômica e limites à cobertura da imprensa garantiram apoio a líder formado nos EUA

Cerca de 11 milhões de equato­rianos vão às umas hoje para eleger o novo presidente do país. No poder desde 2007, o esquerdista Rafael Correa, de 49 anos, é o favorito para reele­ger-se para um terceiro man­dato, até 2017, quando comple­taria uma década no cargo, O desafio de seus sete rivais é so­mar os votos necessários para levar a disputa para o segundo turno. Correa precisa de 50% dos votos - ou 40% com uma diferença de mais de 10 pon­tos sobre o segundo colocado para reeleger-se.

As rígidas regras eleitorais equatorianas, impulsionadas pe­lo próprio presidente, restringi­ram o raio de ação de seus oposi­tores nos 45 dias de campanha. Além disso, o bom momento da economia equatoriana, aliada a uma estabilidade política incomum na década que antecedeu a chegada de Correa ao poder, con­feriram ao presidente altos ní­veis de popularidade, especial­mente entre a população pobre.

A nova lei eleitoral, chamada de Código da Democracia e apro­vada pela Assembleia Nacional no ano passado, determina que a imprensa equatoriana está impe­dida de fazer propaganda "direta ou indireta" por meio de mensa­gens que "tendam a favor ou con­tra" um candidato. Na sexta-fei­ra, os jornais foram proibidos de publicar fotos do último dia da campanha, sob a justificativa de que as imagens poderiam in­fluenciar na decisão do eleitor.

"Um segundo turno é imprová­vel, mas não impossível", acredi­ta o cientista político Simón Pachano, da Faculdade Latino Ame­ricana de Ciências Sociais (Flac- so). "As normas eleitorais difi­cultaram o debate de ideias e a oposição não conseguiu encon­trar uma proposta que desafias­se Correa, que teve mais exposi­ção na mídia que os rivais."

O economista Walter Spurrier, da publicação online Análisis Semanal, concorda com essa avaliação. "Os meios de comuni­cação tiveram medo de informar livremente. Eles tinham de dar o mesmo espaço para todos os can­didatos, mas o espaço dado às chapas menos relevantes preju­dica quem poderia levar a dispu­ta com Correa para o segundo turno", disse. "A imprensa limi­tou-se a informar o dia dos candi­datos. Não creio que o eleitora­do tenha podido analisar."

Um levantamento da ONG Participação Ciudadana divulga­do na semana passada mostra que Correa teve três vezes mais tempo nos canais da TV estatal do que seu principal concorren­te, o banqueiro Guillermo Lasso. A tendência repetiu-se nos jor­nais e nas rádios, apesar de o pre­sidente ter tido menos aparições em canais privados que o rival. Apesar do comportamento refratário à imprensa, Correa é bem visto pela população, princi­palmente por seus investimen­tos em obras de infraestrutura e projetos sociais. Durante seu go­verno, 930 mil pessoas saíram da pobreza, que caiu 9 pontos por- centuais entre 2006 e 2011. Um programa similar ao Bolsa Família da às mães de famílias de baixa renda, pessoas com deficiência e idosos US$50 por mês. Hou­ve investimentos também em estradas, saúde e educação.

A dona de casa Mercedes Vayas, moradora do bairro de La Michelena, vai votar em Correa. Mãe solteira, recebe a ajuda men­sal do governo. "Ele fez um bom governo. Tudo mudou depois que ele chegou ao poder", disse. "Os outros que estiveram no po­der nunca fizeram nada. Se não fosse por ele, não conseguiria criar minha filha."

Completam a lista de princi­pais candidatos o ex-presidente Lúcio Gutiérrez, que fugiu do país em meio a uma grave crise política em 2005, o magnata da banana, Alvaro Noboa, que tenta pela quinta vez chegar ao Palácio de Carondelet, e Alberto Acosta, um antigo colaborador de Correa que rompeu com o presiden­te e forjou uma aliança de extre-ma esquerda com parte do outrora forte movimento indígena.

Entre os "nanicos" destacam-se o centrista Maurício Rodas, Norman Wray - um outro ex- aliado de Correa - e o pastor evangélico Nelson Zavala, co­nhecido por suas polêmicas posi­ções homofóbicas e conservadoras. Ele prometeu, caso seja elei­to, impedir os cantores Madonna e Marilyn Manson de pisar no Equador.