Título: G-20 faz pacto contra guerra cambial global
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2013, Economia, p. B4

Ministros das Finanças reunidos em Moscou reconhecem necessidade de atenuar os impactos negativos de políticas domésticas sobre o câmbio

Ministros das Finanças das 20 maiores economias do mundo se comprometeram ontem em Moscou a não embarcar em uma guerra cambial de proporções globais, ao mesmo tempo em que reconheceram a necessidade de atenuar os impactos negativos de políticas domésticas sobre as moedas de outros países, algo que interessa aos emergentes. Em comunicado divulgado ontem, os representantes do G-20 prometeram se “abster de desvalorizações competitivas” e “evitar desalinhamentos persistentes nas taxas de câmbio”. Mais recente protagonista de medidas de expansão monetária que têm efeito sobre amoeda, o Japão foi poupado de críticas e recebeu apoio às tentativas de reavivar sua economia e evitar a deflação. “Não houve nenhuma censura à atitude japonesa, que foi vista como uma política de desenvolvimento.

As medidas têm o objetivo de recuperar a economia doméstica e não visam a uma desvalorização proposital da moeda”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que pôs o debate sobre a guerra cambial na agenda do G-20. Em razão das políticas de estímulo, o iene japonês perdeu cercade15% de seu valor em relação ao dólar nos últimos três meses, o que aumentou a competitividade de suas exportações. O comunicado reafirmou compromissos assumidos anteriormente pelos membros do G-20 em relação ao tema. Perguntado repetidas vezes, Mantega se recusou a dizer se estava satisfeito com o documento e preferiu responder que gostou do debate com seus pares,que nem sempre se reflete no texto. “O comunicado sempre é mais neutro, para conseguir congregar todas as opiniões”, ponderou.“ Ninguém admite a existência da guerra cambial. Ninguém quer a guerra cambial.”Segundo ele,o assunto ficava “meio escondido” antes, mas foi discutido abertamente em Moscou.

A guerra cambial dividiu países desenvolvidos e emergentes, que sofrem os efeitos de políticas monetárias expansionistas adotadas pelos ricos para tentar ressuscitar suas economias. O aumento da quantidade de dinheiro em circulação eleva os fluxos de capitais, que provocam valorização das moedas das nações em desenvolvimento, com efeitos negativos sobre suas exportações e competitividade. Os ministros ressaltaram que as políticas monetárias devem ser direcionadas a objetivos domésticos, mas reconheceram que elas podem provocar efeitos adversos em outras economias. Apesar de a expressão não estar no comunicado, existe consenso no G-20 de que países emergentes podem adotar certas medidas de controle de capital para se proteger de fluxos originados em políticas expansionistas de nações ricas. “Reiteramos que o excesso de volatilidade dos fluxos financeiros e movimentos desordenados nas taxas de câmbio têm implicações adversas para a estabilidade financeira”, disseram os ministros no comunicado.

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse que houve “exagero” na discussão sobre guerra cambial nos dias que antecederam o encontro. “A boa notícia é que o G-20 respondeu hoje (ontem) com cooperação, em vez de conflito.” Numa inovação em relação ao comunicado divulgado em novembro, os ministros se comprometeram a trabalhar de maneira “mais próxima” na questão cambial, para que todos possam “crescer juntos”.