Título: Infraestrutura puxará investimento
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2013, Economia, p. B5

Estudo do BNDES mostra que mineradoras, usinas e siderúrgicas deverão investir menos, enquanto obras receberão mais recursos

Os setores de etanol, as mineradoras e as usinas siderúrgicas investirão menos de 2013 a 2016, enquanto os aportes em infraestrutura logística, como estradas, ferrovias, portos e aeroportos, deverão crescer e puxar o investimento total na economia, aponta o mais recente mapeamento de projetos feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES) para ciclos de quatro anos. Depois de constatar um tombo nos investimentos da indústria em 2012, o estudo voltou a indicar cenário positivo. O ciclo de investimentos de 2013 a 2016 tem uma carteira de projetos de R$ 3,807 trilhões, 29% acima do ciclo de 2008 a 2011. O mapeamento do BNDES é feito desde 2006 e atualizado ano a ano. Os economistas do banco fizeram a comparação entre os ciclos 2008-2011 e 2013-2016, expurgando da análise o ano de 2012, para não misturar “investimento realizado com projetado”, segundo Fernando Puga, superintendente da área de pesquisa– os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para ano passado ainda não estão completos. Puga classificou 2012 como um “ano atípico para os investimentos”.

Queda

Desde o terceiro trimestre de 2011, o total de aportes vem caindo sucessivamente, mas o tombo ao longo do ano passado ficou de fora da comparação do BNDES. No ano passado, a revisão do mapeamento do banco – abrangendo apenas investimentos da indústria no ciclo 2012-2015 – registrou valor 6% abaixo da projeção para o período de 2011 a 2014. “O ano de 2013 está começando muito melhor”, afirmou Puga. Segundo o economista, a taxa de investimento caminha para 20% do Produto Interno Bruto (PIB) – no terceiro trimestre, ficou em 18,7%, segundo o IBGE. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, tem repetido desde o início do ano que os projetos mapeados pelo banco apontam para uma alta de 5% a 5,5% nos investimentos em 2013. Mês passado, Coutinho apresentou dados preliminares do mapeamento ao comentar o desempenho do banco em 2012. Na comparação entre os ciclos de 2008-2011 e de 2013-2016, o destaque é o investimento em infraestrutura, com alta de 36,2%, atingindo R$ 489 bilhões.

Na previsão do BNDES, os investimentos em aeroportos saltarão 171%. Na indústria, a perspectiva é de alta de 22% no valor dos projetos, somando R$ 1,033 trilhão. Mas há disparidades. De um lado, crescem fortemente os setores aeronáutico, automotivo e de petróleo e gás. Na outra ponta, só três setores deverão investir menos: a indústria do etanol, a siderurgia e a indústria mineradora. Desde o colapso da economia internacionalem2008, esses setores têm enfrentado crises, nos dois primeiros casos, ou revisões pessimistas de crescimento, no último. “Se olharmos para as empresas, todas têm planos firmes de investimento para o futuro”,destacou o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP. “O baixo crescimento da economia, provocado tanto por fatores externos quanto internos, fez com que houvesse adiamento dos investimentos.” Na avaliação de Lacerda, grande parte dos fatores por trás do tombo recente nos investimentos é conjuntural.

Incerteza.

Já para o economista Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), há mais fatores estruturais, como margens de lucro apertadas na indústria, ineficiência no investimento público e alta carga tributária. Além disso, o excesso de incerteza na economia inibe as decisões de investimentos. “Tem muito pacote, muita mudança. Todo mundo prefere esperar ( antes de investir) para ver o que acontece”, disse Castelar. Por isso, o economista não crê numa retomada forte dos investimentos, como aponta o BNDES. O Ibre/FGV ainda não fechou sua projeção para os investimentos neste ano, mas seu crescimento deverá acompanhar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB), em torno de 3% de alta. Assim, a taxa de investimento (como proporção do PIB) “para decair”,mas não se recupera, segundo Castelar.