Título: Correa é reeleito no primeiro turno e renova ameaças à mídia no Equador
Autor: Raatz, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2013, Internacional, p. A8
Mar de apoio. Presidente, que sempre teve relação difícil com a imprensa equatoriana, obtinha 56,7% dos votos, com 55% das urnas computadas; segundo colocado, Guillermo Lasso, tinha 23,3% das preferências e fez discurso admitindo a derrota
O presidente do Equador, Rafael Correa, foi reeleito ontem em primeiro turno paraum novo mandato de quatro anos. Na primeira entrevista coletiva após a vitória, ele prometeu como prioridade de seu próximo período submeter um novo projeto de lei a Assembleia Nacional - onde deve manter ampla maioria - para regular a imprensa equatoriana. Desde que chegou ao poder, em 2007, Correa mantém uma relação conflitiva com a mídia.
"Busquemos uma nova Lei de Comunicação, que regule os claros excessos que tem certa imprensa", disse o presidente após a divulgação de pesquisas de boca de urna que apontavam para sua vitória já no primeiro turno. "A América Latina tem uma das piores imprensas do mundo. Uma das grandes derrotadas (ontem) é aimprensa mercantilista. O que queremos é uma imprensa honesta e responsável. A imprensa interfere em casos judiciais. Queremos ir mais rápido e mais afundo por esse mesmo caminho."
Há anos Correa vem montando um aparato de mídia estatal e ameaçando meios privados com a não renovação de concessões de emissoras de rádio e TV e processos judiciais contra jornais e revistas.
Correa ainda dedicou sua vitória ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, que convalesce desde dezembro de uma cirurgia contra um câncer pélvico em Cuba. O líder reeleito prometeu ainda acelerar os investimentos estrangeiros no Equador e expandir o programa de retorno de emigrantes- durante a crise bancária do final dos anos 90, 3 milhões de equatorianos deixaram opaís
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, com 55% das urnas apuradas, às 23h50 (horário de Brasília), Correa tinha 56,7% dos votos. Seu rival mais próximo, o banqueiro Guillermo Lasso, contava com 23,3%. O ex-presidente Lu- cio Gutiérrez apresentava 6,6% e o centrista Mauricio Rodas, 4%. O magnata da banana Álvaro Noboa tinha 3,7% e o esquerdista dissidente Alberto Acosta, 3,2%. Norman Wray eNelson Zavala tinham 1%.
Lasso reconheceu a derrota no final da noite em Guayaquil, onde votou. "Foi um dia importante, vivemos uma jornada democrática", disse. "Um quarto da população está de acordo com nossas propostas. Do zero, nos tornamos a segunda força política do país." O candidato ainda agradeceu seus eleitores e sua equipe de campanha e disse respeitar quem não votou por ele.
Um pouco antes, quando pesquisas de boca de urna já indicavam seu triunfo, Correa tinha se dirigido à multidão que o esperava na frente do Palácio de Carondelet. "Estamos aqui para servir a vocês, não a nós mesmos", discursou. "Recebemos com toda firmeza mais quatro anos de revolução. Obrigado a todos vocês." Para levar a disputa para o segundo turno, ele precisaria ter menos de 10 pontos de desvantagem para Correa, desde que o presidente tivesse entre 40% e 50% dos votos.
Mais de 11 milhões de equatorianos foram às urnas para eleger o presidente e os 137 membros da Assembleia. Correa votou em um colégio da zona norte de Quito e pediu transparência na votação.
Nos pontos devotação da capital, Quito, a maioria dos eleitores já dava como certo o triunfo de Correa no primeiro turno. "Nos meus 73 anos, Correa foi o único presidente que vi fazendo obras de infraestrutura no Equador", disse o aposentado Marco Suaznavas, que votou em um colégio do centro de Quito. "Muitas vezes ele errou, mas ninguém é perfeito."
O dia da eleição foi tranquilo, sob um forte aparato de segurança. Cerca de 30 mil oficiais do Exército e 20 mil policiais foram mobilizados para a votação.
Denúncia. Logo pela manhã, o presidente do CNE, Domingo Paredes, denunciou uma suposta tentativa de invasão dos servidores do órgão. "São eventos que fazem parte de algo que já prevíamos: tentativas de sabotagem e de interferir no processo eleitoral para deslegitimar o resultado", disse Paredes, que, no entanto, rechaçou qualquer possibilidade de fraude. "É impossível tecnicamente e fisicamente", garantiu. Segundo o vice-presidente do CNE, Paul Salazar, foram 800 mil tentativas de invasão do sistema. O funcionário ressaltou no entanto que um "sistema de detecção de intrusos" bloqueou a tempo o hacker.