Título: Arcebispo de Milão seria candidato preferido de Bento XVI na sucessão
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2013, Vida, p. A6

Religião. Em conversa com cardeais italianos, papa diz que Angelo Scola e líderes da Lombardia têm a responsabilidade de serem "uma luz para todos", o que foi entendido como uma manifestação de apoio; Tarcisio Bertone estaria em campanha por Giantranco Ravasi

Detalhes de um encontro en­tre o papa Bento XVI e car­deais Italianos, divulgados on­tem pela imprensa da Itália, le­vantaram especulações sobre as preferências do pontífice para a sua sucessão. No centro das atenções estaria um deles: Angelo Scola, arcebispo da Ar­quidiocese de Milão. Já o secre­tário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, estaria em campanha por Gianfranco Ra­vasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.

Durante o encontro com os cardeais italianos, Bento XVI in­dicou que Scola e os cardeais da Lombardia, sua região, deve­riam ser "o coração dos fiéis da Europa" e teriam a responsabili­dade de se tornar "uma luz para todos". À Rádio Vaticano, Scola confirmou o diálogo com o papa.

Para editorialistas dos jor­nais La Stampa e Corriere de la Siera, a frase de Bento XVI tem um "peso importante" e indica­ria que Scola conta com a chan­cela do pontífice na corrida pa­ra se tornar o novo papa.

Bento XVI e Scola se conhe­cem há quatro décadas. Aos 71 anos, o arcebispo de Milão é con­siderado uma das principais for­ças dentro do Vaticano. Scola te­ve parte de sua carreira impulsionada pelo então cardeal Joseph Ratzinger. O italiano foi editor da Communio, jornal fundado por Ratzinger, e também teve sua carreira marcada por uma atenção especial a teologia.

Foi também o alemão quem o nomeou Patriarca de Veneza e, depois, arcebispo de Milão, uma das arquidioceses mais ricas do mundo. Veneza e Milão garanti­ram, juntas, nada menos que cin­co papas nos últimos cem anos.

"Se você gosta de Bento XVI, vai gostar de Scola", indicou John Allen, um dos principais vaticanistas em Roma. "Mas, se vo­cê não gosta, Scola não vai te se­duzir", declarou.

Disputa. O arcebispo de Milão não é um nome de consenso en­tre os cardeais italianos. Bertone, que teria sido um dos pilares do desgate de Bento XVI nos últi­mos meses, estaria trabalhando para a eleição de Ravasi.

Aliados de Ravasi têm a espe­rança de chamar para o italiano o voto daqueles que querem uma mudança, e não uma continuida­de em relação a Bento XVI.

Não por acaso, uma das metas do grupo de Ravasi é contar com o voto dos cinco cardeais brasilei­ros e apresentar a Igreja com uma nova proposta. Especulações em Roma indicam que alguns desses cardeais estariam dispostos a dar seu voto ao italiano.

Ravasi terá uma chance única de ganhar aliados. Ontem, o papa e os cardeais iniciaram um perío­do de retiro no Vaticano. O esco­lhido para apresentar os ensina­mentos nesta semana foi justa­mente Ravasi. Tanto Karol Wojtyla quanto Joseph Ratzinger tive­ram essa função antes de serem eleitos papas. O polonês teve es­se papel em 1976 e, dois anos de­pois, foi eleito papa. Ratzinger foi o responsável pelos exercício em 2005, mesmo ano em que foi elei­to. "Isso será uma grande plata­forma para Ravasi", admitiu John Thavis, autor do livro Diário do Vaticano. Neste ano, o tema será "O resto de Deus e o rosto do ho­mem na prece dos Salmos".

Outro ponto que tem pesado a favor de Ravasi é seu esforço em dialogar com aqueles que estão fora da Igreja. O fato de ter passado anos no Iraque, na Turquia e em países do Oriente Médio se­ria uma esperança de que ele po­deria incrementar o diálogo com o mundo muçulmano, um dos pontos de maior fragilidade do pontificado de Bento XVI.

Ravasi, de certa forma, pode­ria ser apresentado como um re­presentante da renovação da Igreja, sem que o novo papa te­nha de vir de fora da Itália.

Neste Conclave, o poder dos votos italianos aumentou de for­ma substancial em comparação a 2005. 0 número de cardeais da Itália passou de 20 a 28.

Polêmica» Ontem, o jornal ita­liano La Repubblica informou que a associação americana Ca­tólicos Unidos pediu ao cardeal Roger Mahony, ex-arcebispo de Los Angeles (EUA), que não par­ticipe do Conclave que definirá o novo papa. Mahony ficou marcado por não ter denunciado ca­sos de abusos de menores por parte de sacerdotes.

Após a renúncia, Mahony qua­lificou o papa como um "extraor­dinário sucessor de João Paulo II" e manifestou sua intenção de participar do Conclave. / com AGÊNCIAS INTERNÂCI0NA1S