Título: Setor cobra política de longo prazo para o etanol
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2013, Economia, p. B1

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) espera que o go­verno dê sinais claros de que in­vestirá no etanol. Medidas pon­tuais são importantes, mas a preocupação do setor é centrada no longo prazo, afirma Antonio de Pádua Rodrigues, diretor téc­nico da entidade.

"Muito mais importante é a de­finição clara de qual é a participa­ção do etanol na matriz de com­bustíveis do País. Precisa haver mais segurança e previsibilidade para o empresário no médio e no longo prazos. Para nós, definido isso, as coisas de curto prazo serão factíveis para chegar lá na frente", argumenta o executivo da Unica.

Hoje, segundo ele, a perspectiva de novas usinas no País é zero. Uma usina de 3 milhões de tone­ladas de cana representa um en­dividamento de R$ 1 trilhão. "Co­mo assumir esse investimento sem saber como serão os próxi­mos 15 ou 20 anos?", questiona o diretor da Unica. "Com essas in­certezas todas, não é para nin­guém retomar o investimento", afirma.

O governo fala em um novo re­gime para a indústria do etanol, que incluiria um conjunto de de­sonerações tributárias. As usi­nas, por sua vez, teriam que aten­der a uma série de metas e com­promissos do setor.

Falta de diálogo. "O problema é que o governo não conversa nem com os trabalhadores nem com as usinas", afirma Sergio Luiz Leite, presidente da Federação dos Trabalhadores nas In­dústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar). "Temos tentado, sem sucesso, sentar com o governo, junto com o setor, para discutir medidas capazes de tornar o eta­nol mais competitivo."

O sindicalista também defen­de contrapartidas da indústria do combustível. "A gente sabe que o setor do etanol não é ne­nhum santo e queremos vincu­lar isso a compromissos de ma­nutenção de postos de trabalho e de qualificação profissional, en­tre outros", cita Leite. ""Como não temos interlocução, o remé­dio do governo pode vir tarde pa­ra muita gente."

Por enquanto, o governo deci­diu antecipar o aumento da mis­tura de etanol anidro (com até 1% de água) na gasolina de 20% para 25%, que estava programa­do para 1.° de junho. A elevação será antecipada para 1.° de maio. Estima-se que o aumento do porcentual na gasolina deverá ele­var a demanda pelo etanol ani­dro no País dos atuais 8 bilhões de litros para 11 bilhões de litros por ano./M.R