Título: Analistas têm dúvida sobre sinais do BC
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2013, Economia, p. B1

Apesar da afirmação do Banco Central (BC) de que está preo­cupado com a inflação, os ana­listas ainda veem ambiguida­des na comunicação da autori­dade monetária sobre uma possível alta da Selic, a taxa bá­sica, nos próximos meses.

"Estou na dúvida, e acho que boa parte do mercado está confu­sa", diz Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP.

Esta semana, numa série de en­trevistas, o BC esforçou-se para mostrar que está preocupado com a alta da inflação. O movi­mento mexeu com o mercado fu­turo, onde as taxas de juros, que já indicam alta da Selic este ano, chegaram por um momento a su­bir ainda mais.

Por outro lado, permanece em alguns a percepção de que o Ban­co Central está atrelado a diretri­zes do Planalto, que cerceiam - embora não impeçam - a livre utilização da Selic parafrear a al­ta dos preços. "O BC é submisso e não está livre para aumentar o juro quando desejar", diz o eco­nomista e consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC.

Na equipe econômica, porém, sempre se lembra que Alexandre Tombini, presidente do BC, ma­nifestou publicamente diversas vezes, nos últimos meses, sua preocupação com a inflação. No­ta-se que ele tem repetido que o ciclo monetário não está abolido - em outras palavras, a Selic ain­da vai oscilar, embora em inter­valo mais baixo que no passado.

Eleições. Alguns analistas acham que poderia haver cálcu­lo eleitoral nas deliberações do Copom e do governo sobre o fu­turo da Selic. Assim, se fosse pa­ra aumentar os juros, haveria al­gum incentivo para fazê-lo logo, de forma que os efeitos negati­vos sobre a atividade econômica e o emprego já pudessem estar dissipados - possivelmente já com um novo ciclo de baixa - na campanha eleitoral de 2014.

O que pode levar o BC a não elevar a Selic, por outro lado, são fatores que teoricamente devem levar à moderação da inflação ao longo do ano, especialmente no segundo semestre - quando Tombini aposta que ela cairá no acumulado de 12 meses.

Além dos efeitos das medidas sobre preços específicos, os serviços podem ce­der, com os salários subindo me­nos (o reajuste do salário míni­mo em 2013 foi bem menor que em 2012), os alimentos - gran­des responsáveis pelo repique in­flacionário no segundo semes­tre do ano passado - recuando, e o câmbio também contribuindo.

Há sinalizações do governo e do BC de que não haverá em 2013 desvalorizações como a perda de 20% do valor do real entre março e novembro de 2012.

Outro fato que pode dar um alívio psicológico é que a infla­ção em fevereiro e março deve ser metade do altíssimo IPCA de 0,86% em janeiro. Mas isso não deve reduzir a inflação acumula­da em 12 meses.

Por outro lado, a política fiscal em 2013 pode ser expansionista: o governo pode fazer descontos no superávit primário estipula­do de 3,1% do PIB que, na prática, o reduziriam para 1,8%.

Em relação às medidas macroprudenciais de controle de mer­cados de crédito - acionadas em 2011 -, analistas dizem que o go­verno está, na verdade, estimu­lando o crédito. "E não é no crédi­to que estamos vendo pressão neste momento", avalia Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra.

Para Kawall, as recentes comu­nicações do BC indicam "uma reafirmação do plano A, mas tam­bém que existe um plano B". O plano A seria a estabilidade da Selic por um longo período, e o plano B seria o início de um ciclo de alta nos próximos meses.

Para um experiente economista do mercado financeiro, se as expectativas de inflação de 2013 ameaçarem subir além dos 5,84% do IPCA de 2012, o tempo "suficientemente prolongado" de manutenção da Selic, mencio­nado nas últimas atas do Co­pom, será retirado da comunica­cão duas reuniões antes da primeira alta da Selic.

Segundo Schwartsman, a infla­ção deriva basicamente do mer­cado de trabalho (que está mui­to aquecido, mesmo com o PIB fraco) e com aumentos salariais de 10% ao ano sem contraparti­da de alta da produtividade. Essa pressão explode nos serviços, com inflação em 12 meses de cer­ca de 8,5%. Nesse setor, a compe­tição internacional é quase ine­xistente e fica mais fácil repassar a alta dos custos.