Título: Piora na expectativa de inflação faz BC lutar para recuperar credibilidade
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2013, Economia, p. B1

Com a inflação em 12 meses ultrapassando a faixa de 6%, próxima do teto de 6,5% do intervalo de tolerância da meta, o Banco Central (BC) está engajado nu­ma árdua batalha para controlar as expectativas e resgatar a credi­bilidade da política monetária.

O descontrole das expectati­vas fica claro nas projeções mé­dias do mercado da inflação no longo prazo, em anos além do corrente. Há dois anos, elas sem­pre ficavam em 4,5%, o centro da meta. Há um ano, a projeção pa­ra 2013 e 2014 já era de, respectivamente, 5% e 4,8%, mas a de 2015 e 2016 ainda se mantinha em 4,5%. Hoje, todas as proje­ções até 2017 estão em 5% ou mais.

A principal preocupação é a ex­pectativa para 2013, que subiu de 5,4% em outubro do ano passado para 5,68% hoje. "A prioridade absoluta do Banco Central é evi­tar que as expectativas conti­nuem a se deteriorar", diz um ex­periente economista do merca­do financeiro.

Para ajudar o BC que tem in­sistentemente de declarado que es­tá preocupado com a inflação, o governo vem lançando mão de uma série de medidas que impactam o preço de produtos e servi­ços específicos, como a desone­ração do IPI dos automóveis no ano passado, a redução do custo da energia elétrica e a prometida desoneração da cesta básica e do Imposto de Importação do trigo.

Segundo as contas dos econo­mistas de um banco operando no Brasil, esse conjunto de medi­das pode tirar até 0,83 ponto porcentual da inflação de 2013.

Mas a estratégia de tentar se­gurar preços específicos é vista com reservas, como uma tentativa de controlar os sintomas, em vez de atacar as causas da infla­ção. "Não adianta varrer a poeira para debaixo de tapete", diz o economista Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP.

A arma por excelência do BC seria o aumento da taxa básica de juros, a Selic, hoje no mínimo histórico de 7,25%. Na sua comu­nicação, porém, como na ata da última reunião do Comitê de Po­lítica Monetária (Copom), o BC vem mantendo que "a estabilida­de das condições monetárias por um período de tempo sufi­cientemente prolongado é a es­tratégia mais adequada para ga­rantir a convergência da inflação para a meta".

Para o mercado, isso significa um longo período com a Selic pa­rada no atual nível. Até há algum tempo, muitos imaginavam que essa estabilidade poderia atra­vessar todo o ano de 2013.

Uma fonte da equipe econômi­ca, porém, lembra que "os comu­nicados são condicionais, não são compromissos; o compro­misso do Banco Central é com a inflação, nao com o instrumento - e, se for preciso usar os instru­mentos, o Banco Central certa­mente vai usar". Por outro lado, observa a fonte, "o BC não trabalha na alta frequência, é um traba­lho trimestral (referência aos Re­latórios de Inflação), há um tem­po para avaliar"