Título: Diretoria da Petrobrás é cobiçada pelo PMDB
Autor: Valle, Sabrina; Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2013, Economia, p. B6

Área Internacional era ocupada pelo partido e está vaga desde abril de 2012

A diretoria internacional da Petrobrás é alvo de uma dis­puta política até agora silen­ciosa entre a presidência da estatal e o PMDB. A pasta era ocupada pelo partido e está informalmente vaga desde abril de 2012, quando a presi­dente Maria das Graças Foster afastou três diretores que chegaram aos cargos por indicação política.

Depois das eleições no início do mês para as presidências da Câmara e do Senado, vencidas pelo PMDB com larga vanta­gem, intensificaram-se as pres- soes para que o cargo seja preenchido por um indicado do partido. Também duas dire­torias da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bio- combustíveis (ANP), vagas des­de o ano passado, são cobiça­das pelo grupo de peemedebistas vitoriosos.

Graça Foster acumula a presi­dência e o comando da Direto­ria Internacional desde julho. Ela acompanha pessoalmente as vendas de blocos explorató­rios que a Petrobrás controla no Golfo do México e na África. A venda de ativos no exterior foi apresentada esta semana co­mo uma das poucas alternati­vas de alívio ao caixa da compa­nhia.

De acordo com o planejamento da estatal, desses blocos sai­rão preciosos bilhões de dóla­res que a ajudarão a "passar por 2013, um ano que será muito difícil", como disse Graça em entrevista na terça-feira.

Apesar do alarmante cresci­mento do endividamento e do fraco resultado do quarto tri­mestre, a Petrobrás não redu­ziu o ritmo de investimentos. Pelo contrário, anunciou alta de 16%, para concluir projetos em curso. Serão R$ 97,7 bilhões neste ano.

Sem autorização do governo para reajustar combustíveis, e negando planos para uma nova capitalização, a venda dos ati­vos no exterior é uma alternati­va citada pela presidente para gerar receita já com data marcada. Uma espécie de processo de leilão de blocos, anunciou Gra­ça, se inicia em abril.

Acelerar o urgente processo de venda dos blocos, mais de um semestre atrasado, não foi o único motivo para Graça per­manecer à frente da diretoria internacional. Sua presença no topo hierárquico da diretoria tem o objetivo de evitar, o máxi­mo possível, a posse de apadri­nhados políticos.

Em 2012, durante o processo inicial de negociações e repu­diando os primeiros assédios, a executiva condicionou aceitar a indicação política desde que mantivesse sob seu controle as diretorias responsáveis pela execução dos projetos.

Enquanto a questão vinha sendo protelada pelo governo, ela aproveitou a falta de defini­ção para trocar a equipe, com respaldo da presidente Dilma Rousseff: extinguiu uma direto­ria executiva e trocou os titula­res de todas as outras quatro.

A diretoria internacional es­tá envolvida em um processo polêmico. Os negócios da divi­são ocorrem no exterior e não passam previamente pelo crivo do Tribunal de Contas da União (TCU).

Foi o que ocorreu com a refi­naria de Pasadena (Estados Unidos), comprada pela Petro­brás por preço dez vezes supe­rior ao seu valor de mercado, numa operação revelada pela Broadcast serviço noticioso de tempo real da Agência Estado e hoje investigada pelo TCU, pe­lo Ministério Público Federal e até pelo Congresso Nacional.

ANP. Outra disputa velada que acontece no setor governa­mental do petróleo movimen­ta a diretoria da ANP. Durante os oito anos de gestão do ex- deputado federal Haroldo Li­ma, seu partido, o PC do B, ocupou os principais cargos da agência.

A substituição do diretor-geral Lima no ano passado pela então diretora Magda Chambriard, profissional egressa do quadro de engenheiros da Petrobrás, resultou no afastamen­to de comunistas da ANP.

As pressões políticas para a nomeação de indicados pelo PMDB ocorrem desde o ano passado. Magda e dois direto­res (Helder Queiroz e Florival Carvalho) permaneceram nos cargos e houve resistência da cúpula da ANP para aceitar as nomeações políticas.

Com a eleição de Renan Calheiros (AL) para a presidência do Senado, Henrique Alves (RN) para a presidência da Câ­mara e Eduardo Cunha para li­derar a bancada de deputados federais do PMDB, o quadro po­de mudar.

Na avaliação de especialis­tas, o governo Dilma pode ce­der os cargos aos peemedebistas em troca de apoio no Con-gresso, cada vez mais necessário neste 2013 que antecede o :ano de eleição presidencial.

Na ANP, o superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente, Raphael Moura, é apontado como o preferi­do de Magda para uma das diretorias. É um profissional da área de petróleo, sem vinculação partidária.

Para a outra vaga na direção, o cotado é o superintendente de Participações Governamen­tais, José Gutman, outro qua­dro técnico.

Na defesa de seus preferidos Magda argumenta que precisa de diretores que trabalhem em harmonia com a equipe atual, o que poderá não ocorrer com a chegada de dirigentes respalda­dos por uma escolha política.

Procurados pelo Estado, nem a Petrobrás nem a ANP se manifestaram sobre as pres­sões políticas para o preenchi­mentos dos cargos de diretoria que se encontram vagos.