Título: Após fala de Mantega, mercado aposta em alta de juros no primeiro semestre
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2013, Economia, p. B1

A taxa de juros é o mecanismo

de controle da inflação no Brasil, e não o câmbio, afirmou ontem em Moscou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, refutando a interpretação de que o governo havia deixado o real apreciar nos dias anteriores para conter a aceleração no índice de preços, que em janeiro atingiu o maior patamar desde 2005.

O ministro já havia feito declaração semelhante em janeiro. Mas, desta vez, os investidores interpretaram como sinal que o Banco Central vai elevar os juros. Investidores aumentaram as apostas no mercado futuro em uma alta da taxa básica (Selic) em 0,25 ponto porcentual entre as reuniões de abril e maio do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. No ano, as apostas são de uma alta de mais de um ponto porcentual.

Apesar da negativa de Mantega sobre o uso do câmbio contra a inflação, os investidores também testaram a disposição do BC de deixar o real se valorizar. A cotação do dólar chegou a cair para R$ 1,952. Mas o BC interveio e o dólar fechou em alta de 0,41%, a R$ 1,9670.

“O câmbio não é instrumento para controlar a inflação. O instrumento do Banco Central para controlar a inflação são os juros”, reiterou Mantega. Ele se recusou a dizer se a recente alta na inflação levará à elevação dos juros, que estão em 7,25% ao ano. “O Banco Central tem de ficar vigilante e, se não houver uma queda da inflação espontaneamente, ele tomará as devidas providências”, declarou a jornalistas antes do início da reunião de ministros do G20, em Moscou.

Segundo ele, o “sinal de alerta” do governo é disparado sempre que o índice de preços supera o centro da meta de inflação para o ano, marca que hoje corresponde a 4,5%.

Mantega disse que a alta do mês passado foi provocada por razões “sazonais, e não estruturais”, e previu que a inflação terá desaceleração acentuada em fevereiro, sob influência do corte nas tarifas de energia.

O índice de preços atingiu 0,86% em janeiro. Anualizado, o porcentual significa uma inflação de 6,15%.

Mantega ressaltou que o governo não tem meta para a cotação do real em relação ao dólar, mas disse que o nível atual é mais “equilibrado”. Segundo ele, a valorização dos últimos dias, que levou o dólar a R$ 1,95, não é uma resposta à alta da inflação e decorre de movimentos normais do mercado.

A apreciação da moeda ajuda no controle de preços na medida em que torna mais baratas as importações, pois é preciso menos reais para o pagamento do valor em dólares.

Para ele, a alta ocorreu “dentro de uma margem razoável” e manteve a moeda em um patamar que dá “certa competitividade” às exportações e barra importações a preços “artificialmente” baixos. / COM AGÊNCIA ESTADO