Título: Discussão sobre guerra cambial é exagerada, diz FMI
Autor: Trevisam, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2013, Economia, p. B3

Para a diretora-gerente Christine Lagarde, não há nenhum grande desalinhamento na cotação das principais moedas globais

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse ontem em Moscou que a discussão em torno da guerra cambial no âmbito do G-20 é “exagerada” e não há nenhum grande desalinhamento na cotação das principais moedas globais.

A declaração foi ecoada por representantes da Europa e dos Estados Unidos, que tentaram reduzir o peso do tema no encontro de ministros e presidentes de Bancos Centrais das 20 maiores economias desenvolvidas e emergentes.

A estratégia funcionou e levou à queda na temperatura da discussão do tema, que estava entre os tópicos centrais da agenda do encontro. O documento que o grupo divulgará hoje deverá repetir as linhas gerais de textos anteriores, nos quais os países se comprometiam a evitar desvalorizações competitivas das moedas e a caminhar para regimes de cotações fixadas pelo mercado.

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, declarou que o debate em torno da guerra cambial é “inapropriado, infrutífero e autodestrutivo”. Para a vice-secretária do Tesouro americano, Lael Brainard, a discussão é “conversa fiada”.

O discurso foi repetido pelos anfitriões do encontro. “Não há desvalorizações competitivas, não há guerra cambial”, sustentou o vice-ministro das Finanças da Rússia, Sergei Storchak.

Lagarde defendeu o Japão, que esteve na berlinda na véspera do início do encontro em razão de sua política monetária expansionista que levou à forte desvalorização do iene em relação ao dólar nos últimos meses. Segundo ela, as autoridades de Tóquio usaram as mesmas medidas já aplicadas pelo Federal Reserve (banco central) americano, na tentativa de “trazer a sua economia de volta à vida”.

Sem citar nomes, Lagarde também atacou países em desenvolvimento, de onde partiram as críticas às políticas monetárias expansionistas de países ricos que tiveram como efeito colateral a valorização das moedas. “Diferentemente de alguns bancos centrais de mercados emergentes, que estão ativamente intervindo nos mercados cambiais, o que o Japão fez é política monetária.”

Responsável por colocar o tema na agenda do G-20 em 2010, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em entrevista coletiva na manhã de ontem que a guerra cambial continua a ser um problema para as nações emergentes, ainda que a situação do Brasil esteja “mais tranqüila” do que há três anos. O principal fator para a mudança foi a redução no fluxo de capitais de curto prazo para o País, provocada em grande parte pela redução nos juros. “O Brasil estava com uma taxa de juros muito diferente da dos outros países. Agora está mais semelhante.”

Os juros elevados atraíam uma “avalanche” de capital especulativo de curto prazo, que forçava a valorização do real e reduzia a competitividade das exportações brasileiras. “Naquela época, chegamos a receber US$ 36 bilhões em dois meses.” Segundo ele, o capital de curto prazo que deixou de ir ao Brasil aportou em outros emergentes, que agora sofrem com a valorização de suas moedas, como México, Colômbia, Peru e Chile. Na opinião de Mantega, a guerra cambial é reflexo da atrofia do comércio mundial e o antídoto para combatê-la é o desenvolvimento dos mercados domésticos, com a adoção de políticas de estímulo ao crescimento.