Título: Constrangimento vai afastar ficha-suja de partido, diz Marina
Autor: Peron, Isadora
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2013, Nacional, p. A6

A ex-senadora Marina Silva dis­se ontem que o seu novo partido, lançado no sábado e batizado de Rede Sustentabilidade, vai apos­tar na "transparência e na visibili­dade" para evitar que fichas-sujas se filiem à legenda. Em entre­vista à Rádio Estadão, Marina afirmou que não caberá a ela fazer a triagem, mas que essa "depura­ção" acontecerá pelo "constran­gimento ético" que a pessoa irá sofrer dentro da sigla.

"Que a Rede tenha transparên­cia e visibilidade e que o proces­so de depuração seja feito pelo constrangimento ético daqueles que não estão de acordo com es­se tipo de procedimento", disse a ex-senadora.

Para Marina, quem não for fi­cha limpa será um "corpo estra­nho" dentro do novo partido. "Não vai ser a Marina colocando gente para fora e para dentro. Vai ser a própria Rede que vai se encarregar de fazer a rejeição desse organismo, que com certe­za será um corpo estranho a ela."

Reforma. Na entrevista, a ex-se­nadora também destacou que o estatuto do seu novo partido ten­ta antecipar regras que seriam co­locadas em prática caso houves­se uma reforma no sistema políti­co brasileiro. Ela citou o exemplo de fixar um teto no valor das doa­ções de campanha como uma al­ternativa ao financiamento públi­co eleitoral defendido pela sigla.

"A gente fala em financiamen­to público de campanha, mas in­felizmente ele ainda não veio. En­tão nós decidimos colocar um te­to limitando a contribuição tan­to de pessoa física quanto de pessoa jurídica. Se a gente não come­çar a fazer as mudanças que a gente quer que aconteça, obvia­mente vamos ficar sempre no mesmo lugar", afirmou.

Quanto às críticas que a nova sigla recebeu no fim de semana, de que seria um partido com ideias utópicas e que, portanto, teria pouca viabilidade dentro do atual cenário político do País, Marina afirmou encarar com normalidade esse "estra­nhamento".

"Em vários momentos da his­tória isso aconteceu. Quando a social democracia iniciou o pro­cesso de atuação na política, nin­guém sabia no que ia dar. Com certeza as formas clássicas de or­ganização acharam que aquilo era muito estranho. Nesse mo­mento há esse estranhamento e é legítimo que isso aconteça." Mais do que superar essa des­confiança, o desafio da nova si­gla será recolher cerca de 500 mil assinaturas até setembro pa­ra poder entrar com o pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso isso não aconteça, o partido não poderá disputar as eleições de 2014.

Até agora, apenas três deputa­dos federais anunciaram que vão se filiar à nova sigla: Walter Feldman (PSDB-SP), Domingos Dutra (PT-MA) e Alfredo Sirkis (PV-RJ). Outros parlamentares esperam a oficialização da Rede para tomar essa decisão.