Título: SNI ficou longe do Dops nos anos de maior repressão
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2013, Nacional, p. A8

Presença de agentes de inteligência ligados à Presidência da República aumentou só às vésperas da abertura política no País

Os registros de entrada e saída do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, mostram que o lo­cal, uma espécie de QG da re­pressão durante o regime mili­tar brasileiro (1964-1985), pas­sou a ser frequentando com as­siduidade por agentes de inteli­gência ligados diretamente à Presidência da República ape­nas a partir de 1978, ano ante­rior à Lei da Anistia. Na época de maior repressão política, no início daquela década, a presen­ça de integrantes do Serviço Na­cional de Informações (SNI) no prédio do Dops era rara.

No domingo, o Estado reve­lou que o QG da repressão era frequentado por militares de al­ta patente que agiam em conjun­to com autoridades civis. Tam­bém aparecem com frequência nos registros um homem que se identificava como "representan­te da Fiesp", a federação paulis­ta de industriais, e do cônsul americano em São Paulo naque­la época, Claris Halliwell.

O SNI existiu entre 1964 e 1999. A maior presença de seus agentes no Dops coincide com as vésperas da posse do general João Baptista Figueiredo na Pre­sidência da República. Ele che­fiou o SNI no governo de seu an­tecessor, general Ernesto Geisel.

Enquanto o número de visitas de agentes dé inteligência crescia, a presença dos militares e de figu­ras da linha dura, como o delega­do Sérgio Fleury, diminuía. Ele foi levado de volta para atividades na área de crimes comuns da Polícia Civil e desapareceu dos livros da portaria do Dops em 1978.

Coordenação. Antes do perío­do de distensão política, porém, militares e civis coordena­vam, do Dops, as operações de inteligência do regime. É enor­me a variedade de nomes de delegados e de militares que se identificavam na portaria do edifício como representantes do Destacamento de Opera­ções de Informações (DOI), li­gado ao Exército.

O QG da repressão do gover­no era o principal centro de in­filtração de agentes entre as or­ganizações de esquerda e de lo­calização de militantes que vi­viam na clandestinidade.

As listas de portaria mostram que era comum a chegada e saí­da, nos mesmos dias e horários, de representantes de diferen­tes setores da comunidade de informações. Em alguns os en­contros reuniram delegados, re­presentantes da Polícia Mili­tar, agentes federais e oficiais do Exército e da Aeronáutica.

"O Dops abrigava um centro de articulação de combate à oposição", afirma Ivan Seixas, ex-preso político e assessor da Comissão da Verdade do Esta­do de São Paulo.