Título: Comissão decide pedir explicações a governo americano
Autor: Bramatti, Daniel
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2013, Nacional, p. A8

Cônsul dos EUA em São Paulo no período da ditadura era freqüentador assíduo da sede do Dops, no centro de São Paulo

A Comissão Estadual da Verda­de Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa paulista, vai pedir ao governo dos Estados Unidos ex­plicações sobre as relações do di­plomata Claris Halliwell com o Departamento de Ordem Políti­ca e Social (Dops) na época da ditadura militar. Documentos re­velados domingo pelo Estado mostram que o Dops registrou visitas de Halliwell à sua sede du­rante três anos, na época em que o local funcionava como um cen­tro de torturas, e o identificou como "cônsul" dos EUA.

Segundo Ivan Seixas, coorde­nador da comissão, também serão pedidos esclarecimentos à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) sobre Geral­do Resende de Mattos, outro fre­quentador assíduo do Dops no pe­ríodo e suposto ex-funcionário da entidade empresarial.

Os nomes de Halliwell e Mat­tos estão em livros de registro de visitantes do Dops que o Arqui­vo Público do Estado tornou pú­blicos na internet. Mattos apare­ce sempre ao lado da sigla "Fiesp". Ele fez mais de 200 visi­tas ao local entre 1971 e 1979.

Halliwell, que morreu em 2006, é apontado como agente da inteligência dos EUA no livro Uncloaking the CIA ("Desvendan­do a CIA"), publicado em 1975. Há apenas uma referência a seu nome, em meio a um grupo de pessoas supostamente relacio­nadas a operações paramilitares em países da América Latina. Ele aparece ainda em um relatório do Departamento de Estado co­mo integrante de uma delegação americana que se reuniu com o presidente Juscelino Kubitschek em 1958.

Durante a reunião da comis­são, Ivan Seixas apontou o fato de Claris Halliwell ter ingressa­do no Dops no dia da prisão de Devanir José de Carvalho, diri­gente da organização clandesti­na Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), em 5 de abril de 1971. Torturado, Carvalho morreu dois depois.

No mesmo dia, diversos agen­tes da repressão entraram no pré­dio, já que Devanir era considera­do um militante importante e de­tentor de informações estratégi­cas sobre a luta armada. Um de­les foi o capitão Ênio Pimentel da Silveira, do Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército.

Durante a sessão, o diretor do Arquivo Público do Estado, Lau­ro Avila Pereira, anunciou que o órgão publicará na internet 850 mil documentos do Dops no dia 1° de abril.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 19/02/2013 04:16