Título: Residente trabalha 100 horas por semana
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2013, Vida, p. A15

Médico atuou no Nordeste e veio para São Paulo

A especialização em neurocirurgia foi um sonho acalentado durante toda a vida acadêmica do médico Daniel de Araújo Paz, de 27 anos, formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 2010. O seu desejo de tentar uma das vagas da concorrida seleção de residentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) foi alcançando um ano depois, com muito estudo e dedicação.

"Em 2011, vim para São Paulo depois de conseguir ser selecionado numa das três vagas anuais abertas para residentes da Unifesp", lembra.

Atualmente trabalhando como médico-residente no Hospital São Paulo, vinculado à instituição, ele tem uma rotina atribulada. "Trabalho todos os dias, além dos plantões. São mais de 100 horas semanais".

Mas, antes de concretizar sua meta de formação, Paz resolveu trabalhar no interior da Paraíba e de Pernambuco, logo após a conclusão da sua graduação. Foi com essa experiência que ele vivenciou a dificuldade para o exercício profissional. A situação encontrada inviabilizava a prática de uma medicina de qualidade. "Só quem já trabalhou no interior sabe do que eu estou falando. Não há material básico nem exames laboratoriais, o que dificulta o diagnóstico dos pacientes", fala.

A situação encontrada no início de sua experiência profissional só deu mais força ao desejo de estar em contato com uma estrutura mais adequada ao exercício da profissão, mesmo que isso signifique um envolvimento mais intenso de sua parte.

Mas a quantidade excessiva de trabalho não preocupa Paz. Isso porque, mesmo com a atribulada rotina, ele está satisfeito com as condições de trabalho que tem em São Paulo. "Tudo aqui é melhor, em termos profissionais, humanos e tecnológicos", resume o jovem médico, que não é o único veio do Nordeste na turma de residentes.

Hoje são 15 participantes - a cada ano saem 3 para a entrada de outros 3 residentes -, e entre eles há um outro residente de Sergipe. O grupo já contou com médicos de Pernambuco, Ceará e Alagoas.

Já adaptado à nova rotina, Paz só pensa em voltar para a Paraíba se a proposta de emprego for interessante profissionalmente.

Mas o fato é que, por ainda ter três anos de residência pela frente, seu futuro ainda não está definido. "Sei que o mercado da Paraíba é mais fechado que o de São Paulo, onde há mais oportunidades", diz. / Davi Lera