Título: 0 déficit corrente poderia ser menor
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2013, Economia, p. B3

O setor de serviços representa 2/3 daeconomia brasileira e, historicamente, é o que mais cresce. Mas o efeito desse crescimento - normal em países cuja classe média também está em expansão -não se limita às transações internas, transbordando para as externas.

Viagens ao exterior, aluguel de máquinas e transportes são itens que geram fortes déficits cambiais, contribuindo para o déficit externo recorde de 2012, quando as contas correntes (que incluem a balança comercial, as rendas e as transferências correntes, além dos serviços) foram negativas em US$ 65 bilhões.

Mais importante, há uma tendência de déficit crescente na conta de serviços: entre 2005 e 2012, o desequilíbrio aumentou de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para 1,8% do PIB, segundo a consultoria LCA. E em dez anos o déficit de serviços foi de US$ 5 bilhões paraUS$ 41 bilhões.

Só em viagens internacionais o déficit de 2012 foi de US$ 15,6 bilhões, explicável porque pessoas que nunca haviam ido ao exterior podem agora fazê-lo. O déficit decorrente do aluguel de máquinas, ainda mais elevado, da ordem de US$ 18,7 bilhões, se deve a projetos de infraestrutura e, em especial, à exploração de petróleo e gás, inclusive nos campos do pré-sal. Já o déficit de transportes decorre, em parte, da presença de empresas externas nas operações de logística do País, com o emprego de navios e contêineres estrangeiros. O peso das exportações brasileiras de básicos, de 46,8% do total das vendas, em 2012, ajuda a explicar o déficit em serviços de transportes.

O que parece claro é que o Brasil não vem perdendo competitividade apenas nas exportações de manufaturados e semimanufaturados (com exceções, como a registrada no mês passado), mas também nas exportações de serviços. "Menos de 1% das empresas de serviços do Brasil exporta", disse ao jornal Valor o consultor Welber Barrai. Também em serviços as empresas são muito afetadas pelã burocracia e pelos altos custos tributários, além de serem, em geral, de pequeno porte.

A grande exceção está nos serviços empresàriais, por exemplo, na construção de obras de infraestrutura em escala global, da América Latina à África ou aos Estados Unidos. Em serviços empresariais, o saldo foi positivo em US$ 11,5 bilhões, em 2012.

Se o País dispõe, por exemplo, de tecnologia da informação e de tecnologia bancária reconhecidas entre as melhores do mundo, a venda de tais serviços ao exterior deveria ser parte de uma política de governo. Mas há muito mais serviços a exportar.