Título: Após volta de Chávez, governo adota silêncio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2013, Internacional, p. A11

Evo Morales vai a Caracas, mas não dá detalhes sobre eventual visita ao presidente da Venezuela, que segue internado em um hospital militar

CARACAS

O silêncio sobre o estado de saúde do presidente Hugo Chávez voltou a tomar conta do governo venezuelano, um dia depois de o líder retornar a Caracas. O presidente da Bolí­via, Evo Morales, esteve on­tem na capital da Venezuela e disse que tentaria reencon­trar o velho amigo e aliado. Não foi divulgado se Evo con­seguiu visitar Chávez.

A notícia de que o presidente havia regressado a Caracas na madrugada de domingo para segunda-feira pegou os venezuelanos de surpresa. O anúncio foi feito na conta oficial de Chávez no Twitter, em três posts com referências aos irmãos Raúl e Fi­del Castro, a Jesus Cristo e à equi­pe médica cubana responsável por seu tratamento.

Até a noite de ontem, porém, não havia nenhuma postagem nova no microblog do presidente.A cúpula do governo tampou­co revelou mais informações so­bre o estado de saúde de Chávez.

A multidão de chavistas que lo­tou a frente do Hospital Militar Dr. Carlos Arvelo, em Caracas, horas após o anúncio do retorno do presidente voltou ontem pa­ra casa. A entrada e saída de pa­cientes ocorria normalmente e o único sinal da presença de Chávez era o grupo de soldados e agentes da guarda presidencial na porta do centro médico.

O vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou on­tem que Chávez é "apenas mais um paciente" no hospital caraquenho. O governo venezuelano garante que é o presidente quem mantém as rédeas na Venezuela, enquanto a oposição critica a falta de informações sobre seu esta­do de saúde.

Chávez retornou, após dois meses, de um complicado pós-operatório em Havana, que teria incluído uma infecção respirató­ria grave. Segundo o governo de Caracas, o presidente foi subme­tido a uma traqueostomia, mas não está claro se ele atualmente respira com ajuda de aparelhos. Em uma foto de Chávez divulga­da na semana passada, na qual ele aparece deitado sorridente ao lado de duas filhas, o líder bolivariano usava um abrigo esporti­vo que cobria o orifício na base do pescoço. Ele parecia respirar sem ajuda externa.

O regresso à Venezuela foi in­terpretado por muitos como um sinal de melhora no quadro clíni­co de Chávez. A notícia fez cres­cer a expectativa de que ele pres- te juramento de seu novo manda­to, conquistado nas urnas em ou­tubro. A Justiça afirmou estar pronta para realizar a qualquer momento a cerimônia de posse.

"Difícil e complexo". Ernesto Villegas, ministro das Comunica­ções e genro de Chávez, admitiu na segunda-feira que o estado de saúde do presidente é "difícil, du­ro e complexo". Aos 58 anos e no poder desde 1999, o líder que diz implementar o "socialismo do século 21" na Venezuela luta des­de 2011 contra um câncer na re­gião pélvica e já passou por qua­tro cirurgias em Cuba, além de sessões de químio e radiotera­pia. Chávez não fala ao público desde o início de dezembro, quando anunciou a recidiva do câncer e disse que se submeteria a nova cirurgia em Havana.

Em entrevista à TV estatal, o parlamentar chavista Rodrigo Cabezas afirmou que o presiden­te retornou ao seu país por ra­zões "médicas e não políticas". "Chávez regressou para conti­nuar seu tratamento. O tempo do presidente agora não é políti­co", afirmou Cabezas.

Em Washington, o governo americano afirmou ontem que, caso o estado de saúde de Chávez o impeça de governar, a Constituição venezuelana exige a convocação de novas eleições. /