Título: A inflação em crescimento deve afetar o comércio
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2013, Economia, p. B2

Entre 2011 e 2012, as vendas do varejo cresceram 8,4%, excluídos veículos, peças e materiais de construção, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE. Mas, se o resultado anual foi muito positivo, o mesmo não se pode dizer da tendência do último trimestre: em outubro, o volume de vendas aumentou apenas 0,6% em relação a setembro, e o porcentual caiu para 0,3%, em novembro, atingindo -0,5%, em dezembro, comparado aos meses anteriores.

Justamente no último trimestre, o IPGA mostrou aceleração, passando de 0,59%, em outubro, para 0,60%, em novembro, e 0,79%, em dezembro. A correlação entre inflação e desempenho do varejo não pode ser ignorada. Tampouco se deve excluir a hipótese de que os resultados do comércio varejista, em janeiro, tenham sido afetados pelo IPGA de 0,86%.

Do ponto de vista dos consumidores, os mais atingidos tendem a ser os de menor renda, que despendem parcela maior do salário nos supermercados e na aquisição de alimentos e bebidas. No mês passado, a inflação do item alimentos e bebidas foi de 1,99%, mais que o dobro da média dos meses de janeiro de 2006 a 2012, calculou a consultoria LCA.

Em dezembro, o volume de vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo foi negativo em 0,3% em relação a novembro. Quedas bem mais fortes foram registradas em artigos farmacêuticos, equipamentos e material para escritórios, livros, jornais e revistas e outros artigos de uso pessoal. O departamento econômico de um grande banco notou que os resultados de dezembro foram bem inferiores aos esperados pelo mercado.

A contribuição do comércio varejista para o PIB poderá ser menor em 2013, caso se confirmem as projeções de crescimento da ordem de 6%, inferiores às registradas em 2012.

O comércio varejista tem um peso não muito grande na formação do PIB, da ordem de 12%, mas é forte gerador de emprego. É, acima de tudo, o sinalizador natural das tendências de consumo.

Graças ao baixo nível de desemprego e ao aumento da renda dos trabalhadores, pode-se afastar a hipótese de crescimento negativo do comércio. Mas as vendas poderão ser menos expressivas devido ao reajuste menor do salário mínimo em relação a 2012, à progressiva redução dos cortes do IPI em veículos, móveis e linha branca (fogões, refrigeradores, máquinas de lavar, etc.), à persistência do endividamento com juros ainda elevados no crédito ao consumidor e, naturalmente, à inflação.