Título: com petistas e tucanos em campanha, Campos já começa a buscar palanques
Autor: Domingos, João ; Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2013, Nacional, p. A4

O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, apressou a montagem de palanques esta­duais para dar sustentação a uma possível candidatura de­le à Presidência da República em 2014. Um emissário de Campos procurou Eliana Calmon, ex-corregedora nacional de Justiça e ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e propôs o ingresso dela no PSB, com duas alternativas: disputar o governo da Bahia ou uma cadeira do Senado.

A Bahia é o quarto colégio eleitoral do País, atrás de São Paulo, Minas e Rio, com 10,1 milhões de eleitores. Lá Dilma Rousseff obteve 70% dos votos na eleição de 2010. Eliana Calmon não deu ainda uma resposta, mas aliados da ministra admitem, nos bastido­res, que ela está tentada a aceitar oferta. Quando corregedora, Calmon negou a intenção de concorrer a algum mandato. Caso obtenha êxito no eleito­rado baiano, Campos poderá medir forças com o governador Jacques Wagner (PT), que saiu da eleição municipal chamuscado pela derrota para ACM Neto na Capital, Salvador. Wagner sonha em ser candidato à Presidência em 2018, ano em que Eduardo Campos certamente o será, independentemente dos passos que o pernambucano dê em 2014.

De acordo com a avaliação de Eduardo Campos, verbalizada por seu emissário, Eliana Calmon poderia ser uma alternativa pós-carlismo e pós-PT na Bahia. Ela chegou ao STJ apadrinhada pelo então senador Antonio Car­los Magalhães (DEM) e é amiga pessoal de Jaques Wagner. Mas alçou voo próprio e notoriedade com um discurso anticorrupção quando comandou o CNJ. Ela usou os termos "bandidos de to­ga" e "vagabundos" ao referir-se a colegas magistrados suspeitos de corrupção.

O PSB nacional aposta no espa­ço para o surgimento de um no­vo nome na Bahia, uma espécie de surpresa capaz de agradar a uma gama distinta de eleitores baianos e dar força ao partido no Nordeste numa eventual dispu­ta com o PT.

A ideia do PSB é lançar os seis governadores à reeleição e núme­ro igual ou maior de candidatos viáveis em outros Estados em 2014.

Força política. Ausente na fes­ta de comemoração dos 33 anos do PT e dez à frente do governo federal, realizada anteontem, em São Paulo, Campos tem apro­veitado todo o tempo de que dis­põe para trabalhar o fortaleci­mento do PSB, o partido que mais cresceu nas eleições para prefeito.

Na festa petista, o ex-presiden­te Luiz Inácio Lula da Silva lan­çou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Co­brado por Dilma há pouco mais de um mês sobre o apoio à sua reeleição, Campos respondeu que preferia não discutir ainda a sucessão de 2014. Mas prometeu fidelidade do PSB a Dilma ao lon­go deste ano.

Palanques. A movimentação do presidente do PSB é intensa. Por ora candidato ao Senado, o líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque, pode ser levado a concorrer ao governo do Rio Grande do Sul em nome do projeto nacional.

Campos já conversou tam­bém com o senador Pedro Taques (PDT) sobre uma possível candidatura ao governo de Mato Grosso no ano que vem, em dobradinha com o PSB. Há ainda a possibilidade de o PSB apoiar Jo­sé Riva, do PSD de Gilberto Kassab, se Taques recusar o acordo.

Em Brasília, o partido do go­vernador de Pernambuco já rompeu a aliança com o PT. Com is­so, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) deverá ser candidato à sucessão do governador Agnelo Queiroz (PT). E, assim como acontece no Mato Grosso, o PSB quer atrair o PDT para a sua aliança. A ideia já discutida entre Rollemberg e Campos é oferecer a vaga de senador para José Anto­nio Reguffe, o deputado mais votado do Distrito Federal. A ex-ministra Marina Silva também já fez acenos a Reguffe, mas a ten­dência dele é ficar ao lado de Rollemberg e de Eduardo Campos.

Rio e São Paulo. Se em São Pau­lo o PSB ainda não tem uma clara noção das alianças que fará, no Rio Eduardo Campos se move, neste momento, em direção ao senador Lindbergh Farias, do PT. Mas esse apoio só ocorreria se Campos desistir de disputar a eleição em 2014, adiando suas pretensões para 2018. Aí, segun­do os socialistas, ele poderia con­tar com a ajuda de Lindbergh para ser o cabeça de chapa no lugar de um petista, o que já vem sen­do defendido por Lula, pelo go­vernador de Sergipe, Marcelo Déda, e pelo ministro Gilberto Car­valho (Secretaria-Geral da Presi­dência).

Déda acha que o PT deve pro­curar Campos para saber dele o que de fato pretende e propor, francamente, que ele deixe de la­do as pretensões relativas a 2014 e se dedique a 2018. Se a conver­sa com Campos não for favorá­vel, o próprio Déda poderá dispu­tar o governo de Sergipe com o senador Antonio Carlos Valada­res (PSB). Próximo de Campos, Valadares será candidato se o presidente do PSB decidir con­correr à Presidência em 2014.