Título: Marina e Campos são costelas do projeto petista
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2013, Nacional, p. A6

Pré-candidato à Presidência diz que o PSDB tem visão oposta à do PT no combate à pobreza, pois o governo só quer"administrá-la"

Virtual candidato do PSDB à Presidência da República em 2014, o senador Aécio Neves (MG) garante que o partido es­tá pronto para o embate com a presidente Dilma Rousseff, can­didata à reeleição, e com possí­veis adversários, como a ex-mi­nistra Marina Silva e o governa­dor de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Para o tucano, as eventuais candidaturas de Marina e de Campos são "coste­las" do projeto inicial do gover­no petista, o que beneficia a opo­sição. "Nós somos claramente oposição ao governo do PT", afirma Aécio. "Nós não estamos no divã." Em entrevista ao Esta­do, o tucano lamentou a anteci­pação do processo eleitoral e cri­ticou o governo do PT que, em sua visão, "se contenta em admi­nistrar a pobreza". "Nós quere­mos a superação da pobreza. E isso não se faz apenas com políti­cas de transferência de renda, que são importantes e devem continuar. Mas isso se faz com investimentos maciços em edu­cação."

• Quando será lançada sua candi­datura à Presidência? Estamos prontos para o emba­te. Mas nós faremos a nosso tempo. Não vamos navegar nas águas que nos impuserem. Es­tou muito tranquilo, mas não há porque antecipar a definição de uma candidatura. O mais im­portante agora para oposição é garantir efetivamente sua uni­dade, construir a nova agenda para o Brasil. O PSDB deve ofi­cializar uma candidatura para obter apoios, no início de 2014. Este ano de 2013 é o ano de o PSDB estabelecer o contrapon­to. É o ano que PSDB tem que trabalhar para que as pessoas percebam que temos uma visão de país distinta dessa que está aí.

• Qual é a visão do PSDB? Temos uma visão conceituai oposta à do PT em relação à pobreza. O PT se contenta em administrar a pobreza. Nós quere­mos a superação da pobreza. E isso não se faz apenas com polí­ticas de transferência de renda, que são importantes e devem continuar. Mas isso se faz com investimentos maciços em edu­cação. É aí que vamos ter um país realmente livre da pobreza. Agora, anunciar numa grande jogada de marketing que o Bra­sil acabou com a miséria é um desrespeito a, pelo menos, 48% de brasileiros de até 14 anos de idade que vivem sem saneamen­to básico, e a mais da metade das famílias de brasileiros que vive sem tratamento de lixo.

• O governador Eduardo Cam­pos (PSB) e a ex-ministra Marina Silva também são possíveis can­didatos em 2014. 0 senhor teme o confronto com eles?

Acho extremamente positivo que essas candidaturas possam vir. Elas têm gerado preocupa­ção no campo do governo. Por­que, na verdade, são costelas de um projeto inicial do gover­no do PT. A Marina traz um conteúdo importante ao deba­te. Ela é uma competidora im­portante e respeitável e tem um discurso, uma proposta mo­derna para o Brasil. E o Eduar­do também traz oxigênio novo a essa disputa. Do ponto de vis­ta do PSDB e do meu pessoal, são todos muito bem vindos. Se alguma preocupação existe, pode ter certeza que não é no nosso campo. A preocupação hoje dessas candidaturas é mui­to maior do lado do governo. São forças que se distanciaram do governo.

• Não há uma preocupação sua em perder votos para Eduardo Campos que, como o senhor, é um candidato jovem e apontado como um bom governador? Independente da faixa do eleito­rado que ele (Eduardo Campos) venha a atingir, ele é saudável na disputa. Temos hoje uma tranquilidade maior do ponto de vista de onde nós estamos nessa disputa. Porque nós não estamos no divã. Nós somos claramente oposição ao governo do PT do ponto de vista administrativo, de gestão econômi­ca, de importância dos conceitos éticos. A nossa ação será de enfrentamento, independente de eu vir a ser ou não candida­to. Caberá aos outros definir de que forma vão se posicionar nesse espectro. Para o Brasil é melhor uma disputa não polarizada desde o início.

• Existe alguma chance de o PSDB vir a se aliar ao PSB na eleição presidencial de 2014? O PSB e o PSDB têm proximidades grandes em vários Estados. A começar por Minas. Mas tenho de reconhecer, e respeito, que hoje a aliança do PSB no plano nacional é com o PT. Agora, o PSB vai ter que decidir se é governo ou não. Ele vai ter o tempo dele. O Eduardo sabe conduzir essa questão adequa­damente. Eu trabalhei e ajudei no crescimento do PSB. O partido tem não só governo de Pernambuco, que é a base eleitoral do Eduardo, e o governo do Ceará. Talvez seja a capital de Minas a maior vitrine do PSB. E me orgulho muito de ter contribuído para isso. Na prática que­ro o PSB fortalecido.

• Na campanha de 2014, o PSDB pretende resgatar o legado dos oito anos de governo Fernando Henrique? Nós erramos gravemente ao não valorizarmos o nosso lega­do nos últimos anos. É uma res­ponsabilidade coletiva do parti­do. Temos feito enorme esfor­ço de valorização desse legado. Temos de refrescar a memória dos brasileiros que, se nós te­mos o Brasil de hoje, nós tive­mos o governo do presidente Fernando Henrique com o con­trole da inflação, a moderniza­ção da economia, as privatiza­ções, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Todas essas, por mais que a presidente Dilma não re­conheça, são heranças bendi­tas. Tão benditas que, do ponto de vista da macroeconomia, fo­ram mantidas pelo atual gover­no. Temos muito orgulho do nosso legado. Mas não vamos fi­car apenas nele. Estamos com olhos no futuro. O PT comemo­rou seus 10 anos de governo com olho no retrovisor, talvez preocupado em o PSDB poder chegar muito perto e acabar atropelando.

• O senhor teme sofrer retalia­ções por parte de José Serra, uma vez que aliados do ex-gover­nador de São Paulo o culpam por ele ter perdido as eleições em Minas em 2010? De forma alguma. Isso é uma lenda. Essa é uma visão antiga e atrasada de quem não acompa­nhou as eleições em Minas. O resultado foi muito positivo. O Serra ganhou a eleição em Belo Horizonte. Ganhou com uma candidatura do PT e com a Dil­ma que é de Belo Horizonte. Vo­cê acha que é pouca coisa? Acho extraordinário. Essa ava­liação é equivocada. O Serra te­ve em Minas Gerais um desem­penho compatível com a campa­nha que nós fizemos com todo o nosso esforço. As pessoas mistificam muito essa história de divisão Aécio/Serra. Ele teve sempre o nosso apoio.

• Seu nome hoje é o que mais une o PSDB? O PSDB sabe que o instrumen­to que ele tem para eventual­mente disputar com chances é a sua unidade. E ela vai aconte­cer. Seja em torno do meu nome, seja em torno do nome do Serra, do Geraldo Alckmin. Não estamos colocando nomes nes­te momento. Nós temos um ob­jetivo maior: apresentar ao Bra­sil uma alternativa de projeto. O PT abdicou de ter um projeto de País para se contentar em ter exclusivamente um projeto de poder. E nós queremos apre­sentar algo novo para o Brasil, ousado, correto. O candidato vai ser aquele que tiver as me­lhores condições de unir o PSDB.

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