Título: Dólar deveria valer R$ 2,20 a R$ 2,30, diz diretor da Fiesp
Autor: Nunes, Daniela Amorim Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2013, Economia, p. B6

Para Roberto Giannetti da Fonseca, uso do câmbio como instrumento de controle da inflação é um grave equívoco

O uso do câmbio como instrumento de controle da inflação é um grave equívoco, na avaliação de Roberto Giannetti da Fonseca, diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em entrevista ao "AE Broadcast Ao Vivo", serviço em tempo real da "Agência Estado". Um bom patamar para a moeda seria entre R$ 2,20 e R$ 2,30, para que a indústria brasileira não saísse prejudicada.

Embora a desvalorização do dólar em relação ao real traga algum alívio sobre pressões inflacionárias, o preço a ser pago por esse tipo de medida é alto demais, segundo Giannetti. "No curto prazo, pode ter um efeito benigno porque funciona como um elemento redutor da inflação, mas traz como conseqüência a desindustrialização, a perda de competitividade, o maior coeficiente de importação da economia."

Inflação. O dólar chegou a R$ 2,127 no fim de novembro, quando a inflação acelerava e se afastava do centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%. Dois meses depois, já estava abaixo de R$ 2, despertando desconfianças de que o Banco Central estaria deixando a moeda americana se desvalorizar ante o real para ajudar a conter aumentos de preços. No dia 19, fechou em R$ 1,955.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a taxa de juros é a principal forma de controle da inflação, e não o câmbio. Segundo Giannetti, é da natureza do BC defender o valor da moeda contra movimentos especulativos, e a autoridade monetária tem sido bem-sucedida na tarefa.

"A nossa intuição diz que um câmbio entre R 2,20 e R$ 2,30 seria muito mais adequado para representar a real competitividade e equilíbrio de mercado entre importação e exportação para a economia brasileira e de fato neutralizando os efeitos perversos do mercado especulativo que tenta de maneira artificial, às vezes, influenciar a formação da taxa de câmbio."

Em 2012, enquanto a produção da indústria caiu 2,7%, as vendas do comércio varejista cresceram 8,4%, informou o IBGE. A distância entrefo crescimento do consumo e a produção industrial ameaça os empregos no setor. "Olhamos para o futuro com preocupação porque o emprego industrial estará em declínio ou estará pelo menos estagnado enquanto não recuperarmos pelo menos a competitividade da indústria", disse Giannetti.

A tendência de crescimento do coeficiente de importação no País, com alta significativa em poucos anos, assusta a indústria. O País importa 25% de tudo o que consome. Em 2006, esse coeficiente de importação era de 16%. "Houve aumento consistente, gradual a cada ano, e atingimos esse número recorde agora", disse o diretor da Fiesp.