Título: África vai pedir em cúpula ajuda de Dilma
Autor: Paraguassu, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2013, Economia, p. B8
Países africanos querem a criação de fundo em que Brasil seria o maior investidor
A presidente Dilma Rousseff será recebida, hoje, na Guiné Equatorial, com insistentes pedidos de 54 representantes de países africanos para que o Brasil concorde com a criação de um fundo de cooperação para financiar programas na região.
Em plena crise econômica internacional, a 3ª Cúpula África/América do Sul (ASA) se dividiu nos últimos dias entre pobres e não tão pobres - os que se beneficiariam do fundo e quem teria a obrigação de ser o financiador. Maior economia das duas regiões, o Brasil deixou claro sua posição: tem limitações financeiras e não acha a ideia, levantada em 2009 na Venezuela, tão boa assim.
O assunto foi discutido nas reuniões prévias, durante os encontros de chanceleres. "O Brasil contribui hoje em projetos de cooperação que beneficiam 40 países africanos. Como país temos limitações financeiras", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, em seu discurso. "Estou convencido de que temos de investir nosso tempo e esforços na elaboração de bons projetos que possam ser executados pelas estruturas de colaboração já existentes. Para bons projetos não faltarão recursos."
A intenção dos africanos é que o fundo seja formado por doações voluntárias dos países dos dois continentes. O que se espera, no entanto, é que os mais ricos - Brasil principalmente, mas também Venezuela, Colômbia e Argentina - sejam os maiores financiadores. Além disso, pedem os africanos, teria de ser criada uma estrutura permanente, uma secretaria da ASA, para manejar os recursos, algo que o Brasil também não vê necessidade.
Caminhos. Mais tarde, em conversa com jornalistas brasileiros, Patriota disse que a ASA precisa "encontrar caminhos e se consolidar, estruturando-se melhor" e essa não é a discussão principal agora. Para evitar o confronto direto, o Brasil deve propor uma solução diplomática: a criação de um grupo de trabalho para analisar o fundo, e deve ser acompanhado por Venezuela e Colômbia, os dois outros países sul-americanos que possivelmente seriam financiadores do suposto fundo.
Apesar da maior parte dos países africanos ter crescido acima da média mundial nos últimos anos e muitos deles terem riquezas como petróleo e outros minerais, a discrepância econômica e social entre as duas regiões ainda é evidente. Enquanto os sulamericanos miram o comércio - especialmente as exportações para a África -, os africanos pedem cada vez mais cooperação. Hoje, o Brasil já dedica metade dos seus recursos para cooperação com os africanos e avalia que, no momento, não poderia financiar ainda mais através de um fundo que não se sabe como seria gerido e sobre o qual não teria o controle que acredita necessário.
A presidente, que chega hoje de madrugada a Malabo, não deverá ceder aos apelos dos líderes africanos. Apesar do professo desejo de estreitar as relações com o continente, o recado de Dilma foi dado através dos seus auxiliares: o Brasil tem limitações e a América do Sul ainda é uma zona também em desenvolvimento.
América do Sul
Além de Dilma, estarão presentes apenas o presidente da Bolívia, Evo Morales; da Guiana, Donald Ramotar; do Suriname, Dési Bouterse; e o presidente em exercício da Venezuela, Nicolás Maduro.