Título: Yoani Sánchez visita o Congresso em meio a aplausos, protestos e bate-boca
Autor: Russo, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2013, Internacional, p. A9

Cubana no Brasil. Parlamentares, assessores e manifestantes recebem dissidente de Havana com saudações e vaias, depois de ela ter sido hostilizada na Bahia e em Pernambuco; em discurso na Câmara, opositora afirma: "Levo do Brasil a recordação da pluralidade"

Depois de ser hostilizada por grupos radicais em sua passa­gem por Bahia e Pernambuco, a blogueira cubana Yoani Sánchez foi recebida ontem com aplausos, vaias e causou bate-boca no Gongresso Nacional, em Brasília. Em discurso, a dis­sidente elogiou a liberdade de expressão no Brasil. "Levo do Brasil a recordação da plurali­dade", disse Yoani.

Recebida por dezenas de jorna­listas, parlamentares e assesso­res, a blogueira e colunista do Es­tado foi levada ao plenário da Câmara dos Deputados. Alguns a aplaudiram, outros protesta­ram e houve bate-boca entre os congressistas. Yoani chegou a su­bir na tribuna, mas não falou até ser levada à sala dos trabalhos da Comissão de Relações Exterio­res e de Defesa Nacional.

A audiência durou pouco mais de duas horas e, enquanto Yoani fazia seu discurso, ouviam-se ao fundo os gritos de manifestan­tes - impedidos de entrar na sala da comissão. Ablogueira relatou ao público a história de seu blog, criado em 2007, e criticou a "satanização pública" que diz so­frer das autoridades da ilha. Ao encerrar sua fala, sob forte aplau­so, Yoani disse que gostaria que os cubanos tivessem os mesmos direitos que os brasileiros e repe­tiu uma frase usada nos últimos dias: "Os brasileiros são como os cubanos, mas com liberdade".

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que a acompanhou no Nordeste, disse ter enviado uma carta ao embaixador cubano em Brasília, Carlos Zamora Rodríguez, convidando-o para o even­to. Em Brasília, Yoani também conversou com o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Na sessão de perguntas à blo­gueira, congressistas governistas questionaram quem estava pagando seu périplo internacio­nal- manifestantes acusam a dissidente de ser financiada pela CIA. Yoani respondeu que a con­ta está sendo paga pela Anistia Internacional e pelas universida­des que a convidaram para minis­trar palestras. Ela também reafir­mou sua oposição ao bloqueio americano imposto a Cuba

Tietagem. Nos aeroportos de Salvador e Brasília, dezenas de pessoas pararam Yoani para tirar fotos e conversar, algo incomum para a dissidente, pouco conheci­da dentro de Cuba. Muitos pe­diam desculpas por ela ter sido hostilizada no Brasil, reforçando que ela era bem-vinda no País.

Já a caminho do aeroporto da capital, onde embarcaria rumo a São Paulo, a cubana disse ao Es­tado que se emocionou com a breve passagem por Brasília. "Foi o dia mais apaixonante da minha vida. Gostaria de tê-lo vi­vido em meu país." "O Brasil é um país difícil de governar, gosta­ria que Cuba também se tornas­se um país difícil de governar", disse. "O importante são os cida­dãos e não o presidente."