Título: Igreja também procurou Dilma para manter pacto inalterado
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2013, Vida, p. A15

Após controvérsia durante a campanha à Presidência da República, Dilma e Bento XVI fizeram uma ‘trégua’

Genebra

Segundo o Estado apurou, em 2010 a Igreja Católica pediu à então recém-eleita Dilma Rousseff que não reformulasse a concordata. O assunto foi debatido em uma reunião entre o secretário da Santa Sé para Relações com os Estados, Dominique Mamberti, e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Roma.

Mamberti insistiu para que a concordata finalmente entrasse em vigor. E Dilma enviou uma carta ao papa estabelecendo uma espécie de “trégua”, depois das polêmicas entre a Igreja e ela durante a campanha eleitoral.

A campanha de Dilma viveu momentos de controvérsia, diante dos comentários do papa sobre as posições da candidata sobre aborto. Bento XVI, em reunião com bispos do Maranhão, condenou a descriminalização do aborto e da eutanásia e recomendou que emitissem “juízo moral” sobre essas questões, mesmo em “matérias políticas”. Embora não tenha feito referência direta à eleição, o papa pediu aos bispos brasileiros que orientassem os fiéis a usar o voto para a “promoção do bem comum”.

Evangélicos. Num esforço para também manter boas relações com o eleitorado evangélico, o deputado estadual Rui Falcão, também do PT, indicou a diplomatas americanos que o governo federal havia optado por ampliar e diversificar os veículos em que fazia publicidade.

“Antes limitado a publicações católicas, o governo está colocando mensagens de serviço público em publicações da Igreja Universal do Reino de Deus, uma igreja controvertida que tem sido investigada pelo governo por corrupção”, afirmou o telegrama, que destaca que a igreja é dona da “segunda maior rede de tevê do Brasil (a Record) ”.

Durante a visita de Dilma Rousseff aos Jogos Olímpicos de Londres, a cúpula da Record se reuniu com a presidente em seus estúdios, por mais de uma hora. Entre os assuntos estava a eleição municipal em São Paulo.

Para Lembrar

Concordata está no STF

O primeiro acordo como Brasil, proposto pela Igreja em 2007, falava na obrigatoriedade do ensino de religião em escolas públicas, acesso às reservas naturais para missionários e isenção de impostos à Igreja. Bento XVI esperava assinar o documento durante sua visita ao Brasil naquele ano. Mas a diferença de posição com o governo brasileiro impediu um acordo.

O Itamaraty reduziu o texto a uma mera declaração de boas relações com a Santa Sé. Mesmo assim, foi questionado na Justiça. A concordata foi aprovada pelo governo Lula e pelo Congresso, mas esbarrou em uma ação direta de inconstitucionalidade movida pela Procuradoria-Geral da República, que está no Supremo Tribunal Federal, contrária ao ensino religioso nas escolas públicas.