Título: Contra a parede, Eletropaulo se vê forçada a aumentar investimentos
Autor: Scheller, Fernando ; Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2013, Economia, p. B5
Toda vez que chove em São Paulo e um pedaço da cidade fica no escuro, as pessoas pensam imediatamente na Eletropaulo. Apesar dos apagões das últimas semanas, Britaldo Soares, presidente da AES Brasil, dona da distribuidora de energia, diz que o trabalho da empresa não é apenas acompanhar a previsão do tempo e rezar para não chover. "Estamos agindo de maneira efetiva, e não esperando a ajuda de São Pedro", diz o executivo.
A AES Eletropaulo, afirma ele, dobrou o valor do investimento anual para atender seus 6,5 milhões de clientes no período entre 2007 e 2012. Não se trata, no entanto, de boa vontade da companhia. Pelas falhas que teve no passado, a distribuidora se viu forçada a aumentar seus investimentos depois de um castigo aplicado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em julho, depois de ser submetida à revisão tarifária da Aneel, a Eletropaulo teve de reduzir os preços ao consumidor em mais de 3%. Em parte, isso foi consequência do descumprimento de metas de qualidade do serviço definidas pela agência reguladora para o período de 2008 a 2012.
A perda de receita teve impacto direto no resultado da companhia, segundo analistas. No terceiro trimestre, o reajuste tirou R$ 264 milhões em receita da companhia. O lucro entre julho e setembro caiu 96% em relação a 2011, para R$ 13,7 milhões. E o mercado espera que a empresa feche o quarto trimestre no vermelho. A corretora Ágora, do Bradesco, projeta prejuízo de R$ 108 milhões para o período.
Diante desse panorama, o mercado passou a evitar as ações da Eletropaulo. Só no dia da redução tarifária, seus papéis caíram 10% na BM&FBovespa. De lá para cá, a perda acumulada supera 40%. "O mercado já precificou essa perda de receita da Eletropaulo, e o papel já caiu bastante", diz Márcio Loureiro, analista da Votorantim Corretora.
Para reverter esse quadro e conseguir um aumento na tarifa na próxima revisão, daqui a três anos, a Eletropaulo terá de mostrar serviço. Ou seja: para aumentar seu preço precisará apresentar indicadores melhores e, para isso, investir no serviço que oferece. Dois anos atrás, a empresa foi fortemente criticada porque pagou, em dividendos aos acionistas, o dobro do que tinha investido em suas operações.[/LIDAO] Agora, está fazendo um esforço interno para encontrar dinheiro para aplicar na melhoria dos serviços.
Cortes. Segundo o presidente da AES, o investimento anual subiu de R$ 434 milhões, em 2007, para R$ 840 milhões, em 2012. Em seis anos, a empresa investiu R$ 3,15 bilhões. Para os próximos cinco anos, o plano é aplicar outros R$ 3 bilhões. Para financiar tudo isso, a companhia cortou custos com imóveis e concentrou toda a sua administração em um edifício em Barueri (SP). Com isso, desocupou uma coleção de imóveis na capital paulista, avaliada em R$ 240 milhões, que já começou a ser vendida.
Além disso, desde 2005, Soares renegocia as dívidas da Eletropaulo, reduzindo consideravelmente o valor pago em juros - o que liberou verbas para investimento. "A Aneel remunera pela qualidade do serviço. Se eu invisto, a minha tarifa é consequentemente maior", diz Soares.
Entre as melhorias já implantadas, segundo a Eletropaulo, está um reforço de 25% nas equipes de reparo de fios e postes, que hoje têm cerca de 2 mil eletricistas. Para aumentar a capacidade de autocorreção do sistema, a empresa instalou 3 mil religadores automáticos. "Esses aparelhos permitem uma avaliação das ocorrências e o restabelecimento imediato da energia em grande parte dos casos, evitando que o consumidor tenha de esperar pela chegada de uma equipe", diz Sidney Simonaggio, vice de Operações da AES.
Outra providência foi a amplia ção da capacidade de atendimento do call center, que passou de 2 mil para 54 mil ligações por hora em dezembro. Mas foi esse mesmo call center novinho em folha que, ironicamente, fez a companhia passar maus pedaços no último dia 14, após uma tempestade que inundou a cidade, derrubou árvores e levou junto fios de eletricidade: a central de atendimento entrou em colapso, as pessoas que estavam sem luz não encontraram atendimento e foram protestar contra a Eletropaulo nas redes sociais. Dessa vez, porém, a Tivit, provedora de tecnologia da empresa, admitiu que a falha se originou em seu sistema.
Mesmo um crítico frequente da companhia, o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal, reconhece que a empresa está fazendo esforços para atender melhor a clientela. "No passado, eles investiram menos do que deveriam e apanharam muito", diz Aníbal. "Agora, com mais investimentos, houve melhoria. Mas, nessa área, o investimento precisa ser permanente."