Título: Crise de produtividade
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2013, Notas e informações, p. A3

A economia brasilei­ra está em crise e nenhuma bravata do governo mudará esse fato. Depois de dois anos de estag­nação, o País conti­nua incapaz de acompanhar o passo dos outros emergentes. Mesmo um resultado um pouco melhor em 2013 será insu­ficiente para o Brasil ganhar posi­ções, de forma relevante, na corrida internacional. As autoridades tentam atribuir as dificuldades do País às condições externas, mas só conven­cem quem se dispõe a ser enganado. O fiasco brasileiro, por enquanto visí­vel principalmente no baixo desem­penho da indústria, reflete uma crise de eficiência produzida com ingre­dientes nacionais, a começar pelos graves equívocos da política econô­mica. O principal efeito da crise glo­bal foi evidenciar os pontos fracos do País em seu sistema produtivo.

Até agora, a indústria tem sido o setor mais afetado pela crise de efi­ciência. No ano passado, a produ­ção física do setor encolheu 2,7%, enquanto a folha de pagamento mé­dio aumentou 5,8%, o número de ho­ras pagas caiu 1,9% e a produtivida­de recuou 0,8%. O custo da mão de obra, resultante da combinação des­ses fatores, cresceu 6,6% em 2012, segundo cálculos do Instituto de Es­tudos para o Desenvolvimento In­dustrial (Iedi). Foi a maior taxa em 11 anos, embora o pessoal ocupado tenha diminuído 1,4%.

O desempenho variou entre os 19 segmentos industriais considerados na pesquisa. Alguns conseguiram ga­nhos de produtividade, mas o custo do trabalho aumentou em 18 deles, reduzindo um poder de competição já em queda há alguns anos e sem perspectiva de recuperação a curto prazo. O desemprego no setor ainda é limitado, no entanto, porque o cus­to das demissões é alto e a reposição do pessoal será complicada, no qua­dro de escassez de mão de obra mini­mamente treinada ou passível de treinamento.

Com a queda de 2,7% no ano passa­do, depois de um crescimento de ape­nas 0,4% em 2011, a produção da in­dústria praticamente voltou ao nível de 2008, primeiro ano da crise inter­nacional. Em 2010 a indústria havia aumentado 10,5%, mas havia diminuí­do 7,5% no ano anterior. A estagna­ção, portanto, já dura alguns anos. A paralisação das grandes economias e o baixo ritmo de expansão do comér­cio global tornaram mais dura a com­petição e deslocaram a indústria brasileira. A valorização do real sem dú­vida agravou a situação, mas esse foi só um fator a mais.

A empresa brasileira já operava com desvantagens consideráveis, bem conhecidas e muito mais impor­tantes. Mas o problema do câmbio - superestimado também por muitos empresários - deu ao governo um pretexto para descuidar das ques­tões mais graves e esconder sua inép­cia atrás da retórica inútil sobre a guerra cambial. Essa retórica se man­tém, porque a instabilidade cambial continua e provavelmente continua­rá enquanto os bancos centrais do mundo rico sustentarem políticas monetárias frouxas. Nenhum deles mudará de rumo por causa dos pro­testos brasileiros.

Se cuidasse menos dessa questão e mais de outros desafios, muito mais importantes e passíveis de solução in­ternamente, o governo daria uma boa contribuição para o desencalhe da economia nacional.

A presidente Dilma Rousseff e sua equipe conhecem pelo menos de no­me esses problemas. Por isso decidi­ram no ano passado, com muito atra­so, lançar um programa de investi­mento em logística. Têm tropeçado, no entanto, em detalhes tanto de for­mulação quanto de execução, por preconceitos ideológicos e por in­competência gerencial.

A direção, pelo menos, é correta. Mas repetem erros bem conhecidos. São incapazes de ir além de progra­mas limitados e mal costurados de desoneração fiscal. Insistem nos estí­mulos ao consumo, quando os entra­ves estão do lado da produção. Fa­lam em expansão do crédito, mas são incapazes de ir além das práticas de favorecimento a grupos e setores selecionados para lucrar e crescer. Ao mesmo tempo, o governo se atola em trapalhadas, intervindo na forma­ção de preços, administrando índi­ces em vez de combater as pressões inflacionárias e revelando uma assus­tadora tolerância à inflação. Diante dos resultados, como resistir à tenta­ção de atribuir os males à tal guerra do câmbio?