Título: Antecipação atende a petistas e tucanos, mas expõe candidatos
Autor: Lopes, Eugênia ;Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2013, Nacional, p. A6

A antecipação do debate sobre a elei­ção presidencial de 2014 atende a necessidades políticas tanto de petistas quanto de tucanos.

Ao lançar a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição na semana passada, o ex-presiden­te Luiz Inácio Lula da Silva tinha um objetivo direto e outros dois adjacentes. O primeiro era acabar com as especulações de que seria ele próprio o candidato petista. Os outros dois eram tirar Dilma e o PT da agenda negati­va na área econômica e em relação ao mensalão, além de sinalizar para os partidos da base aliada que, embora o governador de Pernam­buco, Eduardo Campos (PSB) ensaie um voo solo, o "campo de esquerda" já tem uma "can­didatura robusta", que é a da presidente.

Setores do PT discordam da estratégia sob o argumento de que a antecipação favorece as outras candidaturas - entre os defensores dessa tese está um antigo articulador políti­co petista, o ex-ministro José Dirceu, conde­nado no julgamento do mensalão.

Para o PSDB, a antecipação segue a tentati­va de dar maior projeção nacional ao senador Aécio Neves, pré-candidato do partido ao Pa­lácio do Planalto. No plano traçado, Aécio também tem de intensificar o discurso oposi­cionista, mesmo relutando em dizer publica­mente que é, de fato, o concorrente de Dilma. O senador avalia que vestir o figurino de can­didato a mais de um ano e meio da eleição pode causar desgaste, inclusive com poten­ciais partidos aliados. Mas, pressionado pela direção do partido e pelo próprio ex-presi­dente Fernando Henrique para ser o líder da oposição, ele começou a buscar holofotes.

Enquanto Aécio afina o discurso oposicio­nista, FHC intensifica a retórica antipetista em nome do projeto presidencial tucano. "Fernando Henrique assumiu a paternidade da campanha de Aécio. Acho bom para ele", afirmou o senador Álvaro Dias (PR). Para o ex-governador Alberto Goldman (SP), o partido não deve antecipar a disputa de 2014. "Mas temos de responder às aberrações", afirmou sobre as declarações de FHC sobre a presidente Dilma Rousseff - ontem, o ex-pre­sidente chegou a dizer que a petista era "in­grata" ao afirmar que não herdou "nada" da gestão tucana. "O debate eleitoral se dará no ano que vem, quando vamos discutir o futu­ro, não o passado", completou Goldman.

A antecipação do debate eleitoral também é vista com ressalvas por parte do PSDB, prin­cipalmente o setor paulista ligado a José Ser­ra. Para eles, a antecipação cristaliza a candi­datura de Aécio, sem deixar margem para uma eventual disputa interna pelo posto.