Título: O segredo do sucesso
Autor: Lopes, Eugênia ;Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2013, Nacional, p. A6

A lei está em vigor, mas a re­gra de restrição das campa­nhas eleitorais ao período de três meses antes das elei­ções foi revogada na prática. Tirando a exposição diária em horário especí­fico no rádio e na televisão a partir do mês de agosto do ano eleitoral, tudo o mais está permitido.

Inclusive e principalmente o uso do patrimônio coletivo como instru­mento de propaganda política. Há a lei de probidade administrativa e há o artigo 37 da Constituição que lista a impessoalidade e a legalidade entre os princípios que regem a administra­ção pública.

Tais preceitos, contudo, parecem ter caído em desuso desde que o então presidente Luiz Inácio da Silva lançou sua ministra chefe da Casa Civil como a "mãe do PAC", no início de 2008, e não parou mais de fazer campanha para sua candidata até conseguir que fosse eleita em outubro de 2010.

Portanto, essa história de antecipa­ção da campanha de 2014 em um ano e 10 meses não é novidade alguma nem deveria causar espanto, já que não provoca contrariedade no Ministério Público.

A presidente Dilma, dizem as evidên­cias, é franca favorita. Não há nisso mistério algum nem algo de politicamente genial na estratégia governista: o dado essencial é que a presidente conta com ferramentas que estão a léguas de dis­tância do alcance de seus adversários.

Só para início de conversa, tem todo espaço natural nos meios de comunicação em matéria de cobertura dada ao chefe da nação, pela própria natureza do cargo.

Dilma tem 39 ministérios à disposi­ção e ainda a caneta que lhe permite manejar como bem entender as vonta­des de aliados que porventura pretendam se encantar com a possibilidade de atracar em outros portos.

E os outros possíveis candidatos o que têm? Eduardo Campos, o governo de Pernambuco. Não chega a represen­tar vantagem comparativa face aos instrumentos disponíveis para quem go­verna o País.

E governa com alma de militante par­tidária, como demonstrado recente­mente quando a presidente abandonou a atitude civilizada que vinha mantendo em relação aos antecessores, notadamente Fernando Henrique Cardoso, e se pôs a negar qualquer legado: "Cons­truímos tudo".

Aécio Neves, o controle do governo de Minas, um mandato de senador nu­ma Casa de joelhos para o Palácio do Planalto e um partido bambo, em busca de unidade, discurso e vigor para a luta que se avizinha dura, por ora com contornos de missão impossível.

Marina Silva, uma boa imagem, uma proposta hesitante entre o sonho e a realidade, e um embrião de partido.

As condições são absolutamente desi­guais, residindo nisso o segredo do sucesso que de secreto nada tem.

Vaivém. O que Ciro Gomes diz não necessariamente é para ser levado ao pé da letra com prazo de validade pro­longado. A crítica que faz ao governa­dor Eduardo Campos a quem, segun­do ele, falta "estrada" para se candidatar a governar o País, é a mesma feita a Dilma Rousseff, em 2010.

Na ocasião, Ciro declarou que ela não tinha "liderança e experiência pa­ra governar o Brasil".

Sobre Aécio Neves, a quem inclui junto com Campos e Marina Silva no rol dos políticos desprovidos de "vi­são" para ser presidente, Ciro decla­rou naquela época: "Se Aécio for can­didato, estarei com ele!".

Moda da casa. Raul Castro anun­cia renúncia em 2018 para dar lugar "às novas gerações" e indica como provável sucessor Miguel Díaz-Canel, um fiel aliado do regime que não seria escolhido se assim não fosse.

Indicado para mudar mantendo tu­do como está: sistema de partido úni­co, pensamento único, sem um único espaço para que o cubano experimen­te o quanto vale a liberdade de pen­sar, falar, agir, ir e vir com destemor.