Título: Arrefecimento do crédito não parece uma tendência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2013, Economia, p. B2

Entre dezembro e janeiro, as operações de crédito livre diminuíram, as de crédito consignado aumentaram e, no total, os saldos de empréstimos ficaram estáveis, segundo o relatório de Política Monetária e Operações de Crédito do Banco Central (BC). Mudaram mais a apresentação e o conteúdo das estatísticas - neste caso, provavelmente, para melhor, enquanto se acentuou uma distorção já presente nos últimos meses: as operações direcionadas (BNDES, crédito rural e financiamentos imobiliários) aumentaram 21,5% em 12 meses, comparativamente à alta de apenas 13,1% dos empréstimos livres.

Ficou, de fato, mais fácil consultar os dados do BC sobre crédito, o que é bom para analistas e para quem acompanha estatísticas. O BC passou a trabalhar com uma base de dados mais ampla. Isso ajuda a explicar as flutuações dos juros cobrados das pessoas físicas e das pessoas jurídicas, porque a inadimplência chegou a níveis mais elevados e, depois, começou a ceder e porque os spreads (diferença entre o custo de captação e o custo de aplicação) ficaram menores. Comparações mais amplas entre os relatórios anteriores e o de janeiro deverão ser divulgadas em breve.

Mas está claro que as operações livres perderam peso - de 60,4% do total do crédito, em janeiro de 2012, passaram a 58,7%, no mês passado. Já as consignadas subiram de 39,6% para 41,3% - e é nestas que os tomadores pagam taxas inferiores às médias de mercado. Juros subsidiados ajudam a minoria que tem acesso às linhas do BNDES e a custos mais baixos e assim pode, em tese, cobrar pelos itens que produz preços inferiores aos cobrados pelas empresas que pagam juros de mercado.

Entre os meses de janeiro de 2012 e 2013, os juros cobrados das pessoas físicas no crédito livre caíram, em média, de 41,1% ao ano para 34,5% ao ano, mas, comparados a dezembro, houve alta de 0,6 ponto porcentual. Para as pessoas jurídicas, a alta no mês foi de 0,9 ponto porcentual. O spread médio aumentou mais para as pessoas jurídicas (1 ponto porcentual) do que para as físicas (0,5 ponto). Não há justificativa para a alta.

O crédito, em resumo, ficou mais caro e mais escasso em janeiro. A relação entre o crédito e o PIB diminuiu de 53,6%, em dezembro, para 53,2%, no mês passado. A última queda mensal dessa relação ocorreu em fevereiro de 2012. A estabilização do nível do crédito - numa fase em que é alto o endividamento das famílias - pode indicar alguma contenção do consumo, o que ajudaria no combate à inflação.