Título: O Eduardo precisa de mais chão para ser candidato
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2013, Nacional, p. A6

Entrevista

Cid Gomes (PSB), governador do Ceará

O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), torce para que o PSB apoie Dilma Rousseff em 2014 e avalia que uma possível candidatura de Eduardo Campos a presidente seria "precoce". Mas diz que o governador de Pernambuco teria seu apoio caso essa fosse a vontade democrática de seu partido. Entende que o PSB tem uma "base incipiente" na Câmara e no Senado e que Campos teria dificuldades de montar palanques em diversos Estados, onde há "fragilidades". Em entrevista ao Estado, Cid afirma que, sem contar Pernambuco, a população dos Estados do Nordeste não conhece Campos mais do que os demais Estados do País. Ele defende, contudo, que a vice na chapa de Dilma no ano que vem seja do neto de Miguel Arraes. Sustenta que o PSB ocupa hoje lugar "periférico" no governo federal e que o partido quer mais espaço na atual gestão.

Como o sr. avalia a possibilidade de candidatura presidencial do governador Eduardo Campos em 2014?

Parece até que eu sou contra a possível candidatura do Eduardo. Não tem nada disso. Sou amigo dele. Nunca conversei com ele tantas vezes num curto espaço de tempo. Mas a minha opinião é pública. Um projeto de uma candidatura do PSB, para esse momento, é precoce.

Por quê?

O PSB é um partido que tem seis governadores, é o segundo em governos, portanto, e é o que tem o maior número de prefeituras de capitais. Isso como destaque. Agora, temos uma base muito incipiente ria Câmara, e no Senado mais ainda. E estamos no meio de um projeto. Se a gente votou na Dilma, participamos do governo dela, que tem trazido avanços para o País, e é um governo bem intencionado, que tem aceitação popular... por que agora? O natural agora é a gente apoiar a sua reeleição, mas sempre deixando claro que temos um projeto nacional. Em 2018 a gente mostra as nossas diferenças.

Isso pode se chocar com as pretensões de Campos...

Nada contra o Eduardo, a quem respeito, quero bem e admiro. Para não ficar parecendo que sou quinta coluna. Não tenho a menor vocação moral e ética para ser quinta coluna. No dia em que eu estiver irremediavelmente indisposto no partido e querendo trabalhar contra o partido... Pelo contrário, quero fortalecer o partido. Acabei de ter um momento difícil na minha relação com o PT (na eleição de 2012 em Fortaleza), que faz 16 anos. Se eu achasse que o PT era o melhor para o Brasil eu era filiado ao PT. Não acho que o PT seja o melhor para o Brasil, não. A proposta do PSB é melhor. Agora, na política tem conjunturas e tem que ter estratégias. A nossa estratégia agora deveria ser nos fortalecermos, ampliarmos nossa base, principalmente no Senado.

A avaliação do sr. é de que Campos será ou não candidato?

Pessoalmente acho que ele não está decidido a ser e torço para que o cenário favoreça a manutenção da nossa aliança. Isso não é nada contra o PSB, é a favor.

e ele for candidato, terá o seu apoio?

Se a decisão foi democrática, claro que sim. Como não vou?

Ele tem dito que as circunstâncias o colocaram na condição de candidato, mas que isso depende de como o PT vai conduzir esse processo. O que o sr. entende disso?

Tem muita gente interessada na candidatura dele. Gente do partido, de boa fé. Gente do partido por conta de interesse regional, o que é legítimo. Fora do partido porque são oposição ao projeto PT-PSB, embora eu não deixe de admitir que o PSB não tem centralidade nesse projeto, que a centralidade está alicerçada em PT-PMDB, e nós estamos meio periféricos. Mas ainda assim esse projeto é melhor do que o do PSDB. E tem gente que está interessada em ter uma alternativa ao cansaço dessa dicotomia PT-PSDB, de boa fé. Tem também gente que está interessada num projeto diferente que simbolize a direita, e isso me preocupa porque somos de esquerda. E tem gente na base do governo que quer que a gente fique fora porque esse espaço vai ser repartido com eles.

Esses últimos quem são?

PT, PMDB. Não é o partido formalmente, mas gente do PT, gente do PMDB, do PC do B, do PDT. É natural da política. Se sai um esse espaço será realocado. Tem muitos interesses. A dificuldade é você ver o que é legítimo, bem intencionado. Por isso acho que a declaração do Eduardo está correta. Nessa hora quem tem que se esforçar e inclusive abrir mão de espaços é o PT. Em nome de manter à Presidência da República, o PT é que tem que compreender e abrir espaços para outros partidos.

O PT cogitou abrir mão da cabeça de chapa em São Paulo para dar a vice da Dilma a Campos, mas o PMDB bateu o pé...

Eu defendo isso publicamente (que Eduardo seja o vice). Demonstrações de interesse do PT têm que se fazer de várias formas. Não faz sentido a hostilidade que o PT está tendo com o PSB em várias cidades do Brasil administradas por nós.

Por exemplo?

Cuiabá, Fortaleza, Campinas. Passamos por um processo eleitoral em que nos dividimos, mas passou e agora tem um projeto nacional em que o interessado maior é o PT. Quem tem que abrir mão das coisas, ser generoso, ser compreensivo, benevolente, é quem está precisando.

O sr. aponta para as disputas estaduais?

Para tudo. No ministério da Dilma. Vai dizer que o PSB está satisfeito? Nunca fomos um partido que quer cargos. Queremos centralidade. Não queremos ser um partido periférico. Queremos participar de decisões centrais. Isso muitas vezes acaba se traduzindo em participação em ministério. Mas não essencialmente é isso o que a gente está defendendo. A gente quer participar da centralidade do governo. Dos rumos, da discussão da economia.

E isso não está acontecendo?

Não. Não está. A Dilma, todas as demandas que levei, reconheço e sou grato, (foram atendidas). Agora, o PSB quer mais.

E em relação à vice da Dilma?

Defendo isso publicamente, que a vice seja do PSB. Nada contra o PMDB. O PSB é o partido que mais cresceu dentro da base do governo. Muito mais do que o PMDB, embora o PMDB seja um partido maior do que o PSB. Mas tudo bem, precisamos de governabilidade, não posso ser um romântico. Mas o PMDB está muito bem aquinhoado com presidência de Câmara e de Senado. Isso pode se reproduzir. Acho muito razoável que pelo nosso conhecimento, pela coesão... o PMDB é maior, mas não é coeso. Nós temos mais coesão.

A manutenção do PSB na aliança passa pela vice?

Não falo pelo partido. Minha opinião pessoal era a de que deveríamos manter a aliança estando juntos na reeleição da Dilma.

Campos teria condições de concorrer a presidente sem palanques fortes em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Bahia?

Isso é uma fragilidade nossa. Vai mais além. A gente tem fragilidades em Santa Catarina, no Paraná, em São Paulo, no Pará, no Maranhão, em Alagoas, em Goiás, no Acre.

O sr. concorda com a avaliação do seu irmão, ex-governador Ciro Gomes, de que o Eduardo não está preparado para concorrer à Presidência?

Essa coisa de preparado pode ser entendida de diversos aspectos. Preparado intelectualmente? Não acho que foi- isso o que o Ciro quis dizer. Moralmente? Não acho que foi o que ele quis contestar? No sentido de ter visibilidade? Talvez tenha sido isso que o Ciro tenha falado. Visibilidade está associada a tempo de andança, e acho que foi fundamentalmente isso que o Ciro falou.

O quê?

O Brasil é muito grande e para se tornar conhecido não é tarefa fácil. O Eduardo é governador e foi nesse espaço que ele teve visibilidade. Em quatro anos ele conquistou o título de melhor governador do Brasil. É claro que isso é meritório. Agora, no Ceará o Eduardo não é uma pessoa conhecida. O Eduardo precisa de mais chão para isso. Foi nesse aspecto que o Ciro quis falar. Foi feita uma pesquisa, ele ficou com 3%. Desses, 9% no Nordeste e pode ter certeza que são 70% em Pernambuco. Se Pernambuco é um quarto do Nordeste, e ele tem 70% em Pernambuco, é claro que nos outros Estados do Nordeste, como Bahia, Rio Grande do Norte, tal, ele deve ter o mesmo porcentual que tem no resto do Brasil.