Título: EUA enviarão US$ 60 milhões em ajuda não letal para rebeldes na Síria
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2013, Internacional, p. A9

Aposta. John Kerry, secretário de Estado americano, diz que Washington fornecerá treinamento militar, equipamento, assistência médica e comida para a oposição; Casa Branca ainda reluta em ceder armas por medo de que elas caiam nas mãos de radicais islâmicos

Para ajudar a oposição síria a consolidar-se como um gover­no paralelo, os 11 países "ami­gos da Síria" concordaram on­tem, em Roma, com o envio de recursos financeiros e equipa­mentos não letais. Os EUA contribuirão com US$ 60 mi­lhões, mas mantiveram sua posição de não enviar armas.

A ajuda, porém, foi considera­da insuficiente e inadequada pe­la oposição síria. O regime de Ba­shar Assad continua a receber ar­mas da Rússia e do Irã. "Isso já se tornou constrangedor e degra­dante. A escalada (de violência) do regime torna nossos apelos bobos", disse Mohamed Sarmini, porta-voz do Conselho Nacio­nal Sírio (CNS).

O CNS, maior grupo opositor, boicotou a reunião dos "amigos da Síria", em Roma. A Coalizão de Oposição Síria, que cedeu aos apelos dos EUA e esteve presen­te, mostrou-se frustrada com a ajuda e acusou a comunidade in­ternacional de se preocupar mais com o risco de as armas caí­rem nas mãos de extremistas mu­çulmanos.

"A imprensa está mais atenta ao comprimento da barba dos combatentes do que com os mas­sacres", afirmou o líder do gru­po, Moaz Khatib.

Cerca de 70 mil sírios já morre­ram desde o início do conflito, há dois anos. Ontem, comissário da ONU para os refugiados, An­tónio Guterres, disse que 40 mil sírios fogem do país por semana. Em junho, o total de refugiados será de 1,1 milhão se a guerra civil continuar no mesmo ritmo. "O número de refugiados é inacredi­tável, mas não dá a total medida da tragédia. Três quartos deles são mulheres e crianças. Muitos perderam membros de suas fa­mílias e a maioria perdeu tudo o que tinha", disse Guterres.

Em Roma, o secretário de Esta­do dos EUA, John Kerry, anun­ciou o envio de US$ 60 milhões aos opositores como um passo ambicioso dos EUA. Os recursos devem ser empregados em proje­tos nas áreas sanitária, de educa­ção e de segurança nas regiões dominadas pela oposição. Washington, no entanto, ainda resiste à ideia de enviar armas.

No ano passado, a Casa Bran­ca vetou a sugestão do Pentágo­no, da CIA e do Departamento de Estado de armar grupos oposi­tores. Recentemente, o governo rejeitou mandar equipamentos militares não letais.

No entanto, a Arábia Saudita, uma das mais importantes alia­das dos EUA na região, segundo o New York Times, tem financia­do a entrega de armas da Croácia aos rebeldes sírios. "Algumas pessoas na Síria, que nós não apoiamos e cujos interesses não se alinham aos nossos, estão en­tregando essa ajuda (em ar­mas)", afirmou Kerry.

Ao final da reunião em Roma, os chanceleres britânico, Wil­liam Hague, e francês, Laurent Fabius, concordaram em dar mais apoio à oposição síria em razão do aumento da violência do regime de Assad. A Grã Breta­nha anunciou que fornecerá equipamentos não letais. A Fran­ça não especificou como será a sua ajuda.

Intervenção. A guerra civil na Síria deverá ser o tema das con­versas entre Kerry e as autorida­des de Turquia, Arábia Saudita e Catar, nos próximos dias. Em sua primeira viagem como secre­tário de Estado, ele havia tratado dessa questão em Londres, Paris e em Berlim, onde também se en­controu com o chanceler russo, Sergei Lavrov. A Rússia e a China são os membros do Conselho de Segurança da ONU contrários a uma intervenção militar na Sí­ria.