Título: Caracas indicia opositor por corrupção
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2013, Internacional, p. A11

O governo venezuelano indiciou ontem um dos principais líderes da oposição, Leopoldo López, por desvio de fundos públicos, A frente antichavista Mesa da Unidade Democrática (MUD) vê o processo contra López, que foi prefeito do distrito de Ghacao e declarado inelegível em 2008 em razão da mesma acusação de fraude e conflito de interesses, como uma ofensiva do chavismo contra seus rivais políticos.

De acordo com a Justiça venezuelana, López recebeu, há 15 anos, quando trabalhava na estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA), 60.000 bolívares - o equivalente hoje a cerca de US$ 10 mil - da empresa petrolífera para a associação civil Primero Justicia, da qual ele fazia parte. O dinheiro foi liberado pela mãe dele, Antonieta López, que integrava a diretoria da PDVSA.

López compareceu ontem à procuradoria que promove o processo civil contra ele. O jovem político, que era um dos mais cotados para a primária da MUD do ano passado que escolheu Henrique Gapriles para enfrentar o presidente Hugo Ghávez nas urnas em 7 de outubro, afirmou que, na época, era uma organização civil que prestava assistência social para os mais pobres. Hoje, o PJ é um dos principais partidos políticos que integram a MUD.

"O governo tem apresentado esse caso como algo macabro: a mãe que aprova uma doação ao filho para o financiamento do seu partido político", defendeu-se López numa entrevista ao jornal de Caracas El Nacional "Primeiro: minha mãe não aprovou o projeto, mas a diretoria da PDVSA. O que correspondia a ela era estabelecer os termos dos convênios entre as organizações e a PDVSA, uma vez que ela era a encarregada de Assuntos Públicos da empresa. Segundo, Primero Justicia não era um partido, mas uma associação civil."

Julio Borges, coordenador do PJ, afirmou que a controladoria já tinha determinado que nenhum delito tinha sido cometido no caso das doações da PDVSA "Foi uma cooperação para o desenvolvimento de um programa de capacitação de juizes de paz que realizávamos desde 1992", declarou.

Além de López, também estão sob a mira da Justiça venezuelana dois nomes importantes da oposição, como Richard Mardo, acusado de enriquecimento ilícito, e Gustavo Marcano, a quem o governo acusa de extorquir empresas privadas para financiar campanhas da oposição. Mardo e Marcano também são membros do PJ.

"Cada vez que há um evento eleitoral, em lugar de buscar votos, o governo age para inabilitar os líderes mais incômodos", declarou Ismael Garcia, ex-chavista e hoje líder do partido Avanzada Progresista, referindo-se às eleições municipais marcadas para abril.

Por seu lado, Capriles - favorito para assumir mais uma vez a candidatura presidencial da MUD, caso as condições de saúde de Chávez forcem a realização de uma nova eleição - pediu aos venezuelanos que estejam "alertas, uma vez que o país vive um momento decisivo".

Capriles criticou o governo pela organização do ato político da véspera, quando milhares de chavistas lotaram a Avenida San Martin, em Caracas, para lembrar os 24 anos do "caracaço", a série de saques e protestos violentos de 1989 que deixou pelo menos 300 mortos. "O povo se levantou e saiu às ruas com um objetivo, mas morreu muita gente e é um dia triste. A morte não se celebra", afirmou.

Protesto

Um grupo de estudantes segue acorrentado diante da sede da Magistratura da Venezuela em Caracas. Os manifestantes exigem que Chávez apareça em público ou seja decretada sua ausência do cargo.