Título: Preço da terra agrícola subiu 227% em dez anos, quase o dobro da inflação
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2013, Economia, p. B1

Comprar áreas rurais foi investimento mais rentável do que aplicações em dólar, renda fixa, ações e ouro no período entre 2008 e 2012

Puxado pelo aumento das co­tações da dobradinha soja/mi­lho no mercado internacional, o preço médio de um hectare de terra destinado ao agrone- gócio mais que triplicou em dez anos no Brasil, superando de longe a inflação. Além dis­so, em cinco anos, entre 2008 e 2012, a terra se valorizou num ritmo mais acelerado que o dólar, aplicações em renda fi­xa, ações e até mesmo o ouro, o "queridinho" dos investido­res em períodos de crise.

Uma pesquisa sobre o merca­do de terras feita pela consulto­ria Informa Economics/ FNP mostra que, entre o primeiro bi­mestre de 2003 e o último bimes­tre de 2012, o preço médio da ter­ra no Brasil aumentou 227%. A cotação média do hectare, que engloba áreas para agricultura, pecuária e reflorestamento, sal­tou de R$ 2.280 para R$ 7.470. Nesse período, o preço da terra subiu 12,6% ao ano, quase o do­bro da inflação média anual, de 6,4%, medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade In­terna (ÍGP-DI).

Bimensalmente, os preços das terras são coletados com corre­tores e engenheiros agrônomos pela consultoria, que integra o maior grupo de informações so­bre o agronegócio no mundo. As cotações da terras se referem a preços pedidos ou a negócios fe­chados no País em 133 regiões classificadas com o mesmo tipo de terra.

A disparada das cotações das terras provocou uma certa parali­sia nos negócios de compra e ven­da nos mercados com áreas mais valiosas do País, como em Casca­vel, no Paraná, onde o hectare para grãos atingiu R$ 36 mil em dezembro último, ou em Rio Ver­de, em Goiás, com a terra para soja cotada a R$ 24 mil por hecta­re. "Aqui não tem terra para ven­der", conta o diretor do Sindica­to Rural de Rio Verde, José Ro­berto Brucceli. Ele conta que, por sorte, dois anos atrás, conse­guiu comprar cerca de 500 hectares na região. Pagou R$ 12,4 mil pelo hectare. Hoje essa terra vale R$ 20,6 mil. "O preço chegou no teto", afirma.

A paralisia dos mercados se re­pete nas terras para cana-de-açúcar em Ribeirão Preto (SP), onde o hectare chegou a valer R$ 32 mil em dezembro, com alta de 138% em dez anos, segundo a consultoria. Em Piracicaba (SP), a cotação é ainda mais alta: R$ 41 mil o hectar e da terra para cana, com elevação de 305% em dez anos. Esse resultado, segundo o diretor técnico da consultoria e responsável pela pesquisa, José Vicente Ferraz, foi influenciado pela ida da montadora sul-coreana Hyundai e de outras empre­sas para o município.

Regiões. As regiões do Brasil com as terras que mais se valori­zaram nos últimos dez anos fo­ram a Nordeste e a Norte, apon­ta a pesquisa. No Nordeste, o pre­ço do hectare subiu 13,5% ao ano e atingiu R$ 3.298 em dezembro de 2012; no Norte, a valorização anual foi de 13,3%, com o hectare valendo R$ 2.228 no fim do ano passado.

Segundo Ferraz, a grande valo­rização das terras do Norte e do Nordeste está sendo puxada pe­la região do "Mapitoba", que en­globa área para plantação de mi­lho, soja e algodão de quatro Es­tados: Maranhão, Piauí, Tocan­tins e Bahia. A área foi batizada com as sílabas iniciais dos Esta­dos. "No Mapitoba, os preços es­tão explodindo", ressalta.

É exatamente essa região que tem uma das terras agrícolas mais valorizadas do País. Em Uruçuí, no Piauí, o preço do hec­tare de alta produtividade subiu 15% ao ano desde 2003, ou um total de 321%. Segundo Ferraz, trata-se de uma região com rele­vo excepcional para o cultivo de soja e milho. Mas a infraestrutura é um problema. "Se não tives­se problema de infraestrutura, a valorização teria sido ainda maior", diz Ferraz.

Além das boas condições de clima e de topografia, ele ponde­ra que parte da grande valoriza­ção das terras do Noite e do Nor­deste se deve ao fato de o preço nessas regiões ser ainda relativa­mente baixo. Isso explica, por exemplo, porque as terras da re­gião Sul - as mais caras, cujo hec­tare vale, em média, R$ 15 mil - foram as que menos se valoriza­ram em dez anos no País (um au­mento médio de 12,1% ao ano nos preços).